AGUIRRE TALENTO
MÁRCIO FALCÃO
FOLHA DE SÃO PAULO
Um vídeo gravado por câmeras de segurança comprova, segundo a Polícia Federal, uma reunião do então presidente do PSDB e senador Sérgio Guerra (PE) com o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e empreiteiros para enterrar a CPI da Petrobras em 2009.
No registro, que também tem áudio, Guerra afirma que "não vamos polemizar", diz que tem "horror a CPI" e que considera "deplorável" um deputado "fazendo papel de polícia". O tucano, que morreu em 2014, era um dos integrantes da comissão.
A Folha teve acesso a relatório da PF com a transcrição das conversas, que ocorreram no escritório de um amigo do lobista Fernando Soares, o Baiano, também presente.
Em sua delação premiada, Costa disse que Guerra pediu R$ 10 milhões para enterrar a CPI e que o pagamento foi feito pela empreiteira Queiroz Galvão.

Não há, na transcrição da PF, conversa explícita sobre propina. Ouvidos sobre o vídeo, Costa e Baiano interpretaram um determinado trecho como sendo um acerto velado de pagamento.
Nesse ponto, eles conversavam sobre a defesa da Petrobras contra uma empresa que apresentava problemas. Guerra comenta: "Acho que a defesa não foi completa, a defesa não foi [o advogado] Antônio Fontes?".
Depois, pergunta: "E aí, como é que tá [inaudível] bem?". Colares responde: "Dando suporte aí ao senador, tá tranquilo". Guerra diz: "Conversa aí entre vocês".
Baiano diz que "as tratativas ilícitas eram ditas de forma velada, sem dizer 'propina'". Segundo ele, seria a reunião final para acertar detalhes do pagamento de R$ 10 milhões, que sairia do consórcio que construía a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, composto por Queiroz Galvão e Galvão Engenharia.
Guerra deixa clara sua disposição em não avançar na CPI, segundo a transcrição.
O tucano afirma inclusive que seu então colega de partido, o senador Álvaro Dias (atualmente PV-PR), queria mandar "algumas coisas pro Ministério Público", mas que ele tentaria "controlar isso".
Guerra também chega a questionar Costa sobre atrasos nas obras e acusações de sobrepreço. O então executivo da Petrobras cita custos, exemplificando com a mão de obra, e diz que não havia irregularidades.
"Aí você vai na obra lá, tem refeitório com ar-condicionado, nutricionista e tal. Custa mais caro, custa."
Guerra o tranquiliza: "Nossa gente vai fazer uma discussão genérica, não vamos polemizar as coisas. [...] Eu tenho horror a CPI, nem a da Dinda [possível referência à investigação contra o então presidente Fernando Collor] eu assinei, é uma coisa deplorável, fazer papel de polícia. Parlamentar fazendo papel de polícia".
OUTRO LADO
O PSDB informou, em nota que "não conhece a gravação e por isso não comentará, mas reitera seu apoio às investigações da Lava Jato".
No fim de 2014, quando veio à tona a declaração de Paulo Roberto Costa sobre Sérgio Guerra, seu filho Francisco Guerra disse que não teria como falar com alguém que não está mais aqui. "Mas eu preservo o legado do meu pai com muita honra."
A Queiroz Galvão informou que "não tem conhecimento do suposto vídeo e de seu conteúdo" e que não comenta investigações em andamento. A Galvão Engenharia nega as acusações e disse que Erton Medeiros já deu esclarecimentos às autoridades.