O drama diário nas filas do INSS

Antônio Assis
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Folha de Pernambuco

A situação precária nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) prejudica aposentados e pensionistas de todo o País. Em Pernambuco, o cenário é crítico. O atendimento é deficiente e, mesmo após o fim da greve dos peritos médicos -paralisação mais longa da categoria, que durou quase 140 dias e deixou um saldo de mais de dois milhões de perícias pendentes, segundo o sindicato da categoria - os beneficiários ainda enfrentam dificuldades para marcar os procedimentos. A pressão sobre o sistema é grande e vem gerando atritos entre segurados e servidores públicos da Previdência Social. Em menos de 15 dias, a Polícia Militar registrou o terceiro caso de agressão dentro de uma agência do órgão na Região Metropolitana do Recife (RMR), após casos registrados em Caruaru e no Cabo de Santo Agostinho.

O caso de polícia começou justamente com uma perícia médica. Um porteiro ameaçou de morte um médico perito durante uma consulta de renovação de benefício na unidade do INSS de Olinda, também no Grande Recife. Alexandre Guedes, 46 anos, que é morador da comunidade olindense de Salgadinho, teve a renovação do benefício negada. Ele está afastado do trabalho em consequência de um acidente de moto ocorrido em dezembro de 2014.

De acordo com uma das diretoras da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Ena Albuquerque, existe uma conta que não fecha: a quantidade de peritos para a quantidade de perícias. “Além do mais, há uma demanda reprimida, motivada pela última greve, atrelada ao fluxo normal do dia”, explicou, destacando que, além de tudo isso, quatro peritos se aposentaram de 2015 para cá, alguns se afastaram por problemas de saúde e outros desistiram da carreira. “Para se ter ideia, em 1998 tínhamos 19 agências. Atualmente, são 15 para um contingente muito maior de pessoas”, comparou. A Associação, frisou Ena, apresentou reposição para aumento do quadro de pessoal. “Entretanto, as agências vivem em situação precária, é muito além de tudo isso”, justificou.

Coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco (Sindsprev-PE), José Bonifácio do Monte, compartilha da mesma tese. “O sistema sai inúmeras vezes do ar, fruto da lentidão do setor de informática do INSS, e a demanda é muito maior que o número de agendados. “Entendo o lado dos beneficiários, que sofrem com o mau atendimento, mas a situação dos pontos de atendimento é lamentável”, afirmou.

Falhas nos sistemas atrapalham serviços

As remarcações são ainda o principal fator para o estresse dos segurados durante a consulta, destacando que muita gente ainda reclama da demora no reagendamento por conta das greves dos profissionais do setor de carreira social, no ano passado, e dos peritos. “Os movimentos de paralisação foram distintos e juntos duraram cinco meses. Por isso, uma demanda de 1,5 mil beneficiados foram prejudicados. Fizemos um mutirão e conseguimos reduzir esse número. Porém, outros fatores também atrapalham, como a oscilação do sistema de informatização e falta de documentação exigida para perícia”, justificou o delegado da Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP) em Pernambuco, Adilson Morato.

O delegado afirma que em dias que a intranet da Previdência Social apresenta falhas, cada agência chega a reagendar 20 consultas por dia. “Além disso, os segurados precisam se conscientizar de que é necessário apresentar o documento exigido para a perícia. Caso contrário, será necessário reagendar. E isso causa um estresse grande para as pessoas. No entanto, mesmo com esses fatores, ressalto que o médico perito não constata doença, e sim avalia se o trabalhador está apto a retornar ou não as atividades. A figura de um servidor preguiçoso e mal intencionado tem que acabar. Somos fiscalizados e podemos ser punidos com a concessão de benefício indevido”, complementou Morato.

Além do último caso de agressão, no dia 31, uma vendedora foi detida na unidade do INSS de Caruaru e um soldador foi preso na agência do Cabo de Santo Agostinho. O INSS não se posicionou até o fechamento desta edição.

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