Roberta Rêgo
Folha-PE
Desperdício de água, Aedes aegypti, o clima do país, direitos das domésticas, questões indígenas. Qual desses problemas você priorizaria no Brasil? Uma verba total de R$ 10,75 milhões vai ser destinada pelo Google.org - braço social da companhia - para empresas brasileiras que propõem o uso da tecnologia para resolver problemas sociais. Os dez projetos premiados pelo no Desafio de Impacto Social do Google foram anunciados nesta terça-feira (14), no escritório da companhia em São Paulo.
A participação do Brasil foi recorde: um milhão de votos no website. Se inscreveram 1.052 projetos e dez foram à final, dois por região do País. Seriam três escolhidos pelos seis jurados - a atriz e apresentadora Regina Casé; o CEO da Fundação Lemann, Denis Mizne; a artista plástica Adriana Varejão; Walela Suruí, representante do povo indígena Paiter Suruí; a jogadora de futebol Marta V. Silva, que também é embaixadora da ONU; e Jacqueline Fuller, diretora do Google.org. Na hora do anuncio, foi decidido premiar um quarto projeto com o valor máximo.
O total foi de cinco prêmios de R$ 1,5 milhão e outros cinco de R$ 650 mil. A maior parte dos vencedores propôs soluções para questões éticas e cívicas do País. Além da verba, eles vão receber mentoria do Google e da organização Ponte a Ponte.
"A gente acredita no poder da tecnologia para causar impacto na realidade", explica Jacqueline Fuller, norte americana, diretora do Google.org. Ela cita exemplos como a iniciativa que conecta crianças que precisam de próteses a pessoas que têm impressoras 3D. Ou ainda o uso do poder de processamento e mapas do Google para ajudar no combate ao desmatamento da Amazônia e às arboviroses.
Os dez projetos finalistas foram a júri popular e um deles foi eleito para receber a premiação máxima, de R$ 1,5 milhão: o Transparência Brasil. A ONG sediada em São Paulo propõe o acompanhamento da construção de creches e escolas - são três mil obras paradas ou atrasadas no país e a pior situação é no Nordeste segundo Manoel Galdino, um dos sócios, nascido em Alagoas. "É um projeto robusto e escalável. Os governos não têm interesse em informar sobre isso, então as pessoas vão poder tirar fotos e denunciar", explica.
Jacqueline Fuller lembra que trabalhos voluntários e filantropia podem ser feitos de várias maneiras. "Todos são voluntários aqui no Google, isso inspira, deixa os trabalhadores orgulhosos e é uma forma de atrair e reter talentos", defende. Segundo ela, o Brasil tem sido um ótimo parceiro. "Os vencedores de 2014 entregaram grandes resultados", acrescenta.
O fato de os projetos envolverem política, diante da crise que o Brasil vive, "não surpreende diante da situação atual. O que fazemos é tornar os cidadãos mais envolvidos em política. Seja por meio de petições ou dando a eles carreiras reais".
Conheça os projetos escolhidos:
Prêmios de R$ 1,5 milhão escolhidos pelos jurados:
ITS Rio:
A meta é ampliar a plataforma Mudamos.org, que permite construir políticas públicas de maneira colaborativa - só quatro leis federais foram feitas dessa forma até hoje. "Qualquer pessoa vai poder criar leis e usar as redes sociais para mobilizar apoios", afirma Ronaldo Lemos, um dos autores do projeto.
Vetor Brasil:
O projeto já cadastrou mais de 15 mil jovens que querem trabalhar em órgãos públicos e promete fazer a ponte entre a vaga e o candidato. "É um trabalho estratégico que já envolve 11 estados de cinco regiões do Brasil e cinco partidos diferentes", defende a autora da iniciativa, Joyce Toyota.
Arredondar:
Funciona assim: você faz uma compra em uma loja física e autoriza o vendedor a arredondar os centavos para doar a uma ONG. Depois usa a internet para acompanhar o destino da sua doação. "Você compra um pão e reduz a mortalidade infantil", sintetiza a autora, Nina Valentini.
IPAM (prêmio de última hora)
Plataforma operada pelos indígenas que vai dar alertas sobre alterações no clima. "Se vocês querem chuvas nas suas hortas, ajudem os indígenas a cuidar do clima", disse Paulo Moutinho, representante do projeto.
Projetos que vão receber R$ 650 mil:
WWF Brasil
Rastreamento coletivo para impedir a propagação de doenças como a Zika e a Dengue. A ONG propõe uma armadilha de baixo custo e um aplicativo para smartphones chamado AeTrapp para o monitoramento comunitário dos casos de arboviroses. Isso contribuirá para o combate aos mosquitos e prevenção da dengue, zika e chikungunya. Com o prêmio, eles vão implementar um projeto piloto na Amazônia, inicialmente em 10 comunidades, e depois difundir o uso da tecnologia para todo o País.
Inovagri
Um sistema que orienta agricultores a não desperdiçar água. A iniciativa visa conectar os gestores de abastecimento com dados de agricultores para distribuir a água limitada de forma mais eficiente. Eles pretendem beneficiar mais de 80 municípios em dois anos com o prêmio.
Aliança da Terra
Uma ferramenta que conecta pequenos fazendeiros com as informações que eles precisam para melhorar seus negócios. Ao longo dos próximos dois anos, 500 pequenos produtores de três assentamentos rurais poderão coletar, analisar, gerenciar e compartilhar dados sobre a sua produção e meio ambiente para aumentar a renda de suas famílias e transformar a realidade local.
Themis
Um app que fornece conhecimento e ferramentas para trabalhadoras domésticas lutarem por seus direitos. A plataforma vai oferecer uma calculadora de salário, além de conectar as trabalhadoras umas às outras.
Centro de Valorização da Vida
A organização mundial de saúde (OMS) confirma que 90% dos casos de suicídio podem ser evitados. Com o prêmio, o CVV vai vão desenvolver um aplicativo para facilitar a conexão entre pessoas que precisam de ajuda com os voluntários, mais do que duplicando o número de atendimentos em dois anos.