Pontal de Maracaípe é paraíso sem lei

Antônio Assis
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Bares são colocados dentro do mangue

Alexandre Gondim/JC Imagem
JC Online

A área do Pontal de Maracaípe, no município de Ipojuca, no Grande Recife, transformou-se num exemplo de como a falta de ordenamento pode, ao mesmo tempo, sacrificar o meio ambiente e comprometer a atividade turística. Em pleno Dia Mundial da Água, celebrado ontem, o local também ilustra como ela não deve ser tratada. O manguezal do entorno do Rio Maracaípe é alvo de ocupações residenciais e comerciais irregulares, e não há estrutura adequada de sinalização, estacionamento, lixeiros e sanitários para recepcionar os visitantes. A situação fez com que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abrisse dois inquéritos civis para apurar os responsáveis pelas irregularidades.

Os problemas começam antes mesmo da chegada ao pontal. A continuação da PE-09 – que liga a Vila de Porto de Galinhas à Praia de Maracaípe –, que segue até a área de manguezais, não dispõe de acostamento e a sinalização é inexistente. Estacionamento, apenas em alguns terrenos privados e, pior, em pleno trecho de mangue, quando a maré está baixa. Os motoristas de buggy que levam turistas para os passeios de jangada pelo rio têm como único acesso ao pontal o buraco aberto no muro de uma propriedade privada. 

Dentro do manguezal, a estrutura é precária. Não existem sanitários e é fácil encontrar sacos plásticos e latas de cerveja pelo local. A antítese do que deve ser o turismo em uma Área de Preservação Permanente (APP), como é definido por lei estadual o entorno do pontal. 



Mas a beleza natural é tão grande que muitos turistas minimizam os problemas estruturais. “A sinalização é um pouco deficiente, mas a natureza aqui compensa qualquer falha”, explica a advogada acreana Fernanda Bezerra, pela primeira vez em Pernambuco. A assistente de direção Keila Maciel segue o mesmo raciocínio. “Poderia haver opções melhores de acesso, mas a natureza compensa”.

Só que, vítima das ocupações irregulares, a mesma natureza pena para resistir. O pontal abriga casas suntuosas erguidas sem qualquer cerimônia dentro da área de mangue, além de um bar que funciona em uma ilhota. Os barcos a motor que circulam pelo local também despejam óleo diretamente no rio.

A promotora de Meio Ambiente de Ipojuca, Bianca Stella Barroso, afirma que os inquéritos civis ainda não têm data para conclusão, e que as soluções para os problemas do Pontal de Maracaípe não são simples. “São irregularidades que se acumularam ao longo dos anos e que têm responsáveis diversos. Nossa intenção é encontrar soluções que preservem o meio ambiente, mas sem esquecer a importante questão social: existem famílias inteiras que sobrevivem da atividade turística no local”. Segundo a promotora, o MPPE tem mantido uma agenda de reuniões com a comunidade em busca de soluções.

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