Juiz responsável pela Operação Lava Jato é alvo de críticas por politizar investigação
El País - Gil Alessi

No dias que se seguiram, Moro faria sua jogada mais ousada e arriscada: a divulgação de uma coleção de áudios colhidos na investigação de Lula, um deles incluindo inclusive a presidenta Dilma. O ato espetacular pelo timing político na última quarta-feira — no mesmo dia do anúncio da nomeação do ex-mandatário como ministro, que deixaria Lula fora de seu alcance — marcaria de vez uma inflexão: o crescimento das vozes que questionam se as decisões de Moro e dos procuradores da Lava Jato cruzaram limites legais para chegar a seus objetivos. Isso aliado à uma excessiva proeminência pública indicava que uma sorte de populismo jurídico poderia comprometer a operação.
Moro nunca escondeu suas inspirações. O juiz da cidade paranaense de Maringá, de ascendência italiana, escreveu longo artigo sobre a Operação Mani Puliti (Mãos Limpas), realizada na Itália na década de 1990 e que terminou com dezenas de políticos presos, mas não com a reforma do sistema político italiano. No texto do juiz formado no Paraná e com estudos em Harvard, um ponto central da argumentação era o caráter estratégico do apoio popular numa investigação desta envergadura. Pode-se ver claramente como isso foi utilizado nos 24 meses de Lava Jato, tanto por Moro quanto pelos procuradores que lideram a investigação. As inúmeras fases da operação foram acompanhadas de coberturas igualmente monumentais. Na maior parte dos autos e delações não havia sigilo e a imprensa poderia ser alimentada diariamente com novos desdobramentos.