Os desafios de quem vive abaixo da linha da pobreza

Antônio Assis
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Luiz Filipe Freire
Folha-PE

Os primeiros raios de sol entram lentamente pela janela. Chega a hora de despertar, de atender às necessidades fisiológicas e de trabalhar. Para quem fica em casa, afazeres a cumprir, crianças para mandar para a escola... Essas atividades descrevem bem aquilo que se costuma chamar de rotina. É uma sequência de procedimentos que, embora norteie o dia de todos, não é igual para todos.

Para uma parcela da população brasileira, que corresponde a cerca de 9,5 milhões de indivíduos, ela tem outros traços. Envolve miséria, moradia indigna, comida precária, ausência de esgotamento sanitário, exposição a doenças. São pessoas abaixo da linha da pobreza, que resistem ao lado de pontes, sob viadutos e às margens de canais. Em pleno século XXI, são sobreviventes a condições análogas às de antes de Cristo, invisíveis, moradores de onde ninguém quer estar.

Pelas vielas da comunidade da Ponte, erguida em palafitas entre as pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, a pequena Micaely, de 3 anos, é uma das que brincam em grupo com outros pequenos habitantes do local. A diversão é bem simples, mas funciona: um velocípede já desgastado, outros pequenos objetos que servem como carrinhos, uma lasca de madeira para riscar as tábuas precárias que compõem o piso. Chão, aliás, que tem ao fundo água suja, lixo boiando e mosquitos. Mesma água em que os moradores lançam seus dejetos. Dentro dos barracos, em geral, dois ou três cômodos pequenos e úmidos para comportar famílias de sete, oito e até dez pessoas.

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