Folha-PE
É bastante conhecido o episódio em que a cantora Björk diz que Elis Regina tem coragem de ir emocionalmente a lugares que ela não se atreve, pelo medo de não conseguir retornar. “Ela cobre todo um espectro de emoções. Em um momento, está muito feliz, parece estar no céu. Em outro, pode estar muito triste e se transforma em uma suicida”, disse a islandesa, sobre as performances da gaúcha, em uma entrevista de 1996. É justamente a potência vocal e interpretativa da Pimentinha, que percorreu arriscados trajetos emocionais em suas canções, que pauta o livro “Elis - Uma biografia musical”, do jornalista e músico gaúcho Arthur de Faria.

Nesse sentido, o autor dá voz a instrumentistas, produtores e arranjadores para tentar dimensionar a potência da artista que tinha ouvido de músico. “Ela tinha um nível muito alto, como cantora e intérprete. A cantora, técnica, ligada à música, e a intérprete, ligada ao texto, atenta ao que estava cantando. Busquei priorizar isso no texto. A vida de Elis me interessa mais do que sua morte. Depois dela e antes dela, não houve artistas com o mesmo nível de realização absoluta entre intérprete e cantora. Ela foi uma figura central na cultura brasileira, com um posicionamento político singular, muitas vezes, em relação a temas que extrapolavam a música”, contou Arthur de Faria.
Da menina que passou a sustentar a família desde cedo, com o sucesso que fazia nas rádios locais de Porto Alegre, à artista em ritmo intenso de produção, nos 17 anos que sucederam a memorável defesa de “Arrastão”, em 1965, a biografia comenta com detalhes a discografia de Elis. Destrincha desde a estreia em LP com “Viva a Brotolândia” (1961), tentativa da gravadora Continental de torná-la uma nova Celly Campelo, aos discos e shows de raro quilate, como “Falso brilhante”, que, ao estrear em dezembro de 1975, redefiniu o conceito de espetáculo musical no showbiz nacional. Com o livro, fica a impressão de que o autor não teve intenção de responder porque Elis morreu, mas sim porque ela vive.