André Clemente
Diário de Pernambuco
“Não vou contratar temporário para nenhuma loja neste ano”, relata a sócia do Lojão do Cabelereiro, Graziella de Moura. “No ano passado, contratei 30 pessoas. A situação de hoje não permite”, acrescenta. O cenário mudou. Há um ano, a presidente Dilma Rousseff era reeleita, a condução do país mudava de rota e a conta chegou forte nos estados e na população. Pernambuco testemunhou os setores produtivos correrem pra se adaptar. Um ano e a economia pernambucana passou a tentar sustentar a geração de riquezas pelos cabelos. Não deu muito certo. A confiança do empresário industrial na economia caiu pela metade, o comércio acompanhou a queda mensal de vendas revisando custos, o setor de serviços parou de ser demandado. Além disso, mais de 65 mil pessoas foram retiradas do mercado de trabalho, principal indicador de aferição da economia.
“Foi um ano de revisão de custos para não demitir, não perder faturamento e se equilibrar”, pontuou a empresária. A queda na procura tem justificativa. “Recebemos três reajustes somente neste ano e tivemos que repassar para o preço”, disse Graziella.

Rafael Ramos, economista do Instituto Fecomércio, explica a conjuntura: “O momento é de custos altos para os empresários e os volumes de venda não compensam. É um comportamento natural reduzir custos em resposta à queda das vendas, e um deles é a demissão, que é a última opção por ser cara, pelos gastos elevados com a rescisão. Antes disso, o empresário já tentou cortar gastos de telefone, energia, horários de funcionamento. A economia em marcha lenta atacou a massa salarial de maior poder aquisitivo, que estão na indústria, e a inflação alta pegou pesado com o consumidor. Essa combinação tem impactos fortes no comércio e nos serviços”, contextualiza.
Analista do Núcleo de Economia e Negócios Internacionais da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Lutemberg Santana reforça o comportamento do empresário, indicando a falta de confiança. “Os levantamentos da Fiepe mostram que os empresários aumentaram o receio quanto à forma que a administração da economia nacional reflete na estadual e termina na empresa. Os industriais reduziram todas as análises de confiança, avaliação de cenário e o índice de expectativas em um ano”, pontuou Santana.
Efeito negativo nas contas públicas
Economia em recessão e inflação em alta também são fatores negativos para as contas públicas de Pernambuco. A conta é simples: produção de riquezas em queda puxa a arrecadação para baixo. Já a inflação em alta corrói a tentativa de aumentos de receita própria. No geral, a arrecadação acumulada em 2015 caiu no comparativo com 2014. Alguns setores, por sua vez, contribuíram com a elevação no recolhimento do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), como a energia, que teve fortes altas, por exemplo. É quando inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), coloca tudo a perder.
De acordo com dados da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, a receita orçamentária acumulada até o 4º bimestre de 2015 foi de R$ 17,46 bilhões. “Quando confrontada com a receita do 4º bimestre de 2014, a redução foi de R$ 1,28 bilhão, significando uma variação nominal negativa de 6,9%. O valor real da receita está em patamar equivalente à receita de 2012.” A arrecadação do ICMS, principal fonte de receita para o estado, atingiu R$ 8,49 bilhões, com crescimento nominal de 4,4% no 4º bimestre, abaixo da inflação pelo IPCA de 9,5%, refletindo a queda na atividade econômica.
Segundo a Fazenda, o repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE) ficou abaixo da inflação. Os convênios, que são transferências voluntárias da União para o estado, caíram 57% na comparação com o 4º bimestre de 2014, atingindo R$ 215,1 milhões. “Reflexo da crise econômica pela qual passa o país. Houve redução de R$ 1,02 bilhão em relação ao mesmo período de 2014”, disse o estado em nota. Isso ocorreu por conta do contingenciamento das liberações de parcelas de operações de crédito já contratadas e a não autorização de novas contratações pela União.