Apesar de não entrar no PSDB, FHC comemora o fato de ter um aliado dentro do PMDB, partido que, assim como a presidente Dilma, dependia para governar. Foto: Otávio de Souza/DP/D.A. Press/Arquivo
Tércio amaral
Diário de Pernambuco
O ex-governador de Pernambuco e deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB) tentou se filiar ao PSDB, mas não foi bem sucedido. A história inédita dos bastidores da política é contada pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em seus Diários da Presidência (1995-1996), cujo primeiro volume foi publicado recentemente pela Editora Companhia das Letras. O tucano conta a articulação de Jarbas, costurada a sete chaves por seus aliados, inclusive do PFL, em passagens do livro no ano de 1995. Os diários, que ainda terão mais três volumes com relatos da rotina presidencial entre 1997 a 2000, serão publicados paulatinamente até 2017. Muitas histórias serão reveladas.
Na primeira menção ao episódio, em agosto de 1995, Fernado Henrique Cardoso diz que recebeu um telefonema do deputado Luís Eduardo Magalhães (filho do senador Antônio Carlos Magalhães) mencionando o “desastre” de uma visita de Sérgio Motta (na época, ministro das Comunicações) a Pernambuco. Numa agenda pública, de acordo com o diário presidencial, “lançou como nosso candidato a governador no futuro alguém que ainda não é do partido, Jarbas Vasconcelos (ex-governador de Pernambuco e atual deputado federal), chamou Arraes de estadista, desagradou a todo mundo e deixou o PFL em polvorosa”. O então deputado Roberto Magalhães, do PFL (atual DEM), entrou em campo e se posicionou contra, num ato de “rebeldia”, a emenda da reeleição, o grande desejo de FHC.
O ingresso de Jarbas ao PSDB também foi mencionado em mais dois episódios. Em outubro de 1995, FHC relata que teve um almoço com o senador Antônio Carlos Magalhães, o deputado federal e presidente do PSDB, Artur Távora, o governador do Ceará, Tasso Jeireissati, e o próprio Jarbas. “Primeiro, Jarbas, que só virá para o PSDB se ficar assegurada a aliança com o PFL, porque é a chance que ele terá, em Pernambuco, de ir para adiante. Isso implica que Roberto Magalhães se candidate a prefeito (do Recife). Muita reação no PSDB local”, diz o diário do tucano. Na época, Jarbas ainda era prefeito do Recife e almejava ser candidato ao governo de Pernambuco na eleição de 1998, cuja vitória se concretizou com 1 milhão de votos a mais do que seu concorrente, o ex-governador Miguel Arraes (PSB), que disputava à reeleição.
O desfecho da trama termina só termina em novembro de 1995, meses depois. FHC relata que teve um encontro pessoal com Jarbas. Do peemedebista recebeu a informação de que não estaria mais no PSDB. A justificativa era que o partido não abriu espaço para o possível filiado. “(Jarbas) Volta um pouco mais cabisbaixo, mas volta, com a minha compreensão, que eu dei. Melhor ter um duque no PMDB, porque esse PSDB, do jeito que vai, fechado em cada localzinho porque tem medo das grandes lideranças, assim não dá”. Fernando Henrique ainda relata também que o senador Carlos Wilson deseja ser candidato ao governo e ligado a Miguel Arraes e solta: “imagine só!”.
A movimentação em torno do PSDB é um dos episódios de gestação da União do Pernambuco, coligação vitoriosa que levou Roberto Magalhães à Prefeitura do Recife, na eleição de 1996, e Jarbas Vasconcelos ao governo de Pernambuco, em 1998, com direito a uma reeleição. Do PSDB, mesmo não sendo filiado, Jarbas teria recebido diversos convites para compor como candidato a vice-presidente do partido nas eleições presidenciais de 2002, cujo candidato era José Serra. Em nenhum momento, Jarbas aceitou o convite. Mas apoiou todas as candidaturas tucanas posteriores, em 2010, com José Serra, e 2014, com Aécio Neve.