Congresso em Foco
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou que vai disputar com o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes a indicação do partido para a sucessão da presidenta Dilma Rousseff, em 2018. A informação foi confirmada pelo próprio pedetista ao Congresso em Foco, em entrevista exclusiva concedida em seu gabinete. Segundo o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o partido terá dois ou três nomes no páreo da corrida presidencial.
Definindo-se como um político “de esquerda” por não estar satisfeito com o “estado de coisas” do país, Cristovam já está em ritmo de pré-campanha pelo país, a cerca de três anos do pleito majoritário. Em 2015, o senador já visitou diversas capitais do país, onde suou a camisa em discursos e debates com correligionários pedetistas. No último fim de semana, segundo sua assessoria, percorreu mais de mil quilômetros e foi a seis cidades do Rio Grande do Sul, berço do trabalhismo, onde dispõe de apoio significativo do PDT local.

Para Cristovam, a filiação dos irmãos Gomes ao PDT é uma prova da “submissão” de Lupi ao ex-presidente Lula e uma maneira de promover a reaproximação entre a sigla, uma das rebeldes da base aliado, e o PT. Questionado sobre como lidará com o gênio do ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, o senador foi fiel ao próprio estilo. “Eu preferia que você perguntasse a ele como é que, com o espírito aguerrido dele, vai enfrentar um diplomático. Eu não vou mudar meu estilo. Não consigo, aliás, mudar meu estilo. E não vejo por que mudar. Eu vou continuar nesse estilo de composição, de compromisso, de diálogo. E falando manso, como dizem”, declarou.
Cortejado por partidos como PPS, que lhe ofereceu legenda para disputar o cargo que pretender (Cristovam é recorrentemente cogitado para o Governo do Distrito Federal), e a Rede Sustentabilidade, o senador faz da federalização da educação e do trabalhismo suas principais bandeiras na corrida presidencial. Ex-governador do Distrito Federal pelo PT entre 1995 e 1999, quando criou o Bolsa-Escola, Cristovam diz que a presidenta Dilma Rousseff repete o mesmo erro do ex-presidente Fernando Collor, cassado em 1992, ao não apostar no diálogo para governar.
“O PT só quer ouvir quem é da patota”, lamentou o senador, membro do grupo suprapartidário de senadores que, no começo do ano, foram levar sugestões para que Dilma conseguisse retomar a governabilidade. Decepcionado com a recepção, ele diz que a petista não é propensa ao diálogo e prefere negociar cargos para manter as relações com os partidos da base aliada – a entrega do Ministério das Comunicações ao deputado e colega de partido André Figueiredo (PDT-CE), nas palavras do próprio Cristovam, foi mera“negociata”.
Impeachment
Na condição de independente em relação à base aliada, Cristovam não raro assume o papel de oposição ao governo no Senado. No entanto, ele diz não ser favorável ao impeachment de Dilma sem provas de que ela cometeu crime que justifique a medida extrema.
“Eu vou ficar muito constrangido se descobrir-se que a Dilma tem crime e eu ter que votar pelo impeachment e ficar na História como um parlamentar que votou para derrubar uma presidente eleita. Se ela tiver envolvida, comprovadamente, em crime. Se ela não tiver, eu não votarei – mas, aí, vai ser muito ruim mais três anos de governo Dilma”, vislumbrou.
Segundo Cristovam, a crise em que o PT mergulhou está relacionada à “acomodação” de suas lideranças. “Quando eu saí do PT, em 2005, quando estava já começando o mensalão, eu disse: ‘Eu saio porque o PT perdeu o vigor transformador’ – porque o compromisso ético perdido é de alguns, não é do partido. Até hoje eu ainda sinto que a militância petista, a nação petista, é um pessoal correto, descente. O Estado petista é que se corrompeu muito”, opinou.
À parte o passado petista, Cristovam já havia deixado claro, em setembro, em sua conta no Twitter, a pretensão de disputar a Presidência contra o principal nome do PT, caso a possibilidade se confirme. “Ciro Gomes disse não querer enfrentar o Lula em 2018, pelo PDT, e eu gostaria de enfrentar o Ciro [junto à militância] para ser o candidato do PDT”, escreveu o senador. Em 2006, Cristovam concorreu ao Palácio do Planalto. Ficou na quarta colocação, com 2,6 milhões de votos (2,64% dos votos válidos). Durante a campanha, manteve a educação, sua principal bandeira na política, como grande mote.