Agência Senado
O Congresso Nacional manteve oito vetos presidenciais a projetos de lei, entre os quais o que concedia reajuste de 78% aos servidores do Judiciário. Na votação mais acirrada da noite, a Câmara dos Deputados manteve o veto ao reajuste (PL 7920/14) por insuficiência de votos.
Para derrubá-lo, seriam necessários 257 votos na Câmara, mas foram registrados 251. Outros 132 deputados votaram a favor da manutenção do veto e 11 se abstiveram. Com o resultado, a matéria não foi analisada no Senado.
Segundo o governo, o reajuste teria impacto financeiro de R$ 27,5 bilhões aos cofres públicos nos próximos quatro anos e, depois disso, mais de R$ 10 bilhões por ano. O Executivo argumentou que a medida é “contrária aos esforços necessários para o equilíbrio fiscal”.
“Servidores têm insistido em dizer que, em nove anos, não recebem reajuste, mas, entre 2013 e 2015, tiveram reajuste médio de 23% a 29% fruto de uma Gratificação de Atividade Judiciária”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Ele chegou a ser interrompido por vaias das galerias.
Protesto de servidores
Depois do resultado, servidores do Judiciário que acompanharam a votação das galerias saíram gritando palavras de ordem contra o governo. “Pode avisar, pode esperar, a sua hora vai chegar”, entoaram os servidores.
A oposição insistiu nos pedidos pela derrubada do veto. O deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) rebateu o argumento governamental de que há cargos com aumentos de cerca de 70%. “Isso não é verdade, é uma recomposição salarial devida”, disse.
O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), também defendeu o aumento. “Os 78% [de aumento] são para alguns cargos, para que esses cargos, já extintos, possam cumprir o que não se cumpriu. O aumento, em média, é de 53%”, afirmou.
Já o deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) disse que o governo age com dois pesos e duas medidas. “Sabe quanto, em apenas 12 meses, até agosto, se gastou com swaps cambiais para compensar o dólar? R$ 162 milhões”, acusou.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) elogiou a mobilização da categoria. Ele disse que os servidores não devem ser sacrificados com nove anos sem aumento salarial. “Ora, de repente o governo escolhe os servidores do Judiciário como sendo o bode expiatório”, disse.
O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) também criticou o governo. “Com que autoridade vem a presidente pedir ao Congresso Nacional que mantenha vetos?”, questionou.
Ajuste fiscal
O governo, no entanto, reforçou o discurso de que é preciso conter qualquer aumento de gastos em momento de crise. Paulo Pimenta disse que o aumento do Judiciário não está de acordo com o ajuste fiscal feito pelo governo. “Vivemos um ano de contingenciamento orçamentário da ordem de R$ 90 bilhões, o dobro da média histórica”, afirmou.
O deputado Silvio Costa (PSC-PE) defendeu a manutenção do veto. “Não posso amanhã olhar os meus netos e dizer que, num momento difícil da economia, cedi à pressão corporativa”, afirmou.
O relator do Orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), alertou para o impacto da medida. “Vivemos em um momento em que não há recursos”, disse.
Líderes governistas foram fundamentais para a manutenção do veto. O líder do PR, deputado Maurício Quintella Lessa (AL), disse que era o momento de apelar à necessidade de preservar o orçamento. “Ninguém é insensível à situação do Judiciário, mas o Brasil vive uma situação extrema do ponto de vista fiscal, e temos responsabilidade com o País”, disse. O PMDB também orientou contra o reajuste.