Mulheres relatam violência trazida pelo desenvolvimento em Goiana e no Cabo

Antônio Assis
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Mulheres têm medo de passar por áreas próximas a canaviais
Foto: Amanda Miranda/NE10
Amanda MirandaNE 10
O que é desenvolvimento para você?

Pernambuco passou por grandes mudanças na economia nos últimos anos, com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) chegando a 7,7% em 2010, por exemplo. Um grande motor para isso foi Suape, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Diante da pergunta anterior, você pode estar pensando que foi lá onde o tal desenvolvimento chegou, mas não é bem assim. Com a chegada de novos trabalhadores sem que os serviços públicos acompanhasse o aumento da demanda, aliando isso ao machismo, a insegurança das mulheres também cresceu, principalmente ligada à violência sexual.
Goiana, na Zona da Mata Norte, agora é a menina dos olhos, é o novo polo desse tal desenvolvimento. Fábricas como a Jeep e a Hemobras já chegaram por lá, porém ainda não há sequer garantia de assistência social. Além de refazer a pergunta que inicia a matéria, agora questiono: será que a história vai se repetir? 

A filha da manicure Ednalva Silva, 35 anos, tinha 15 anos quando, enquanto voltava de um ensaio da banda marcial da escola, no bairro de Fleixeiras, foi abordada por dois homens. Foi estuprada, agredida e teve todo dinheiro e celular roubados. Ednalva não tinha carro para trazê-la ao Recife para tomar o coquetel anti-HIV nem a pílula do dia seguinte e não havia viaturas suficientes da polícia para isso. Pegou R$ 200 emprestados e trouxe a menina para o Hospital Agamenon Magalhães, no Recife. Os traumas físicos já passaram, mas a garota ainda vive com medo e não sai sozinha. A mãe já consegue dormir sem ter pesadelos, mas não esquece a data quando isso aconteceu: 14/09/2015. E, embora não pudesse fazer nada para evitar o crime, ainda guarda o sentimento de culpa. "Não sei quem fez isso, se foi alguém de fora ou que chegou com essas empresas. Só sei que a gente achou que as coisas iriam melhorar, mas (a violência) ficou pior", reclama.


A estudante de direito Camila Mesquita, 19, relata um fato que gerou repercussão na cidade há dois anos: "Uma menina foi chamada para uma das festas que os homens do Exército, que trabalhavam na obra da BR (101), davam. Eles davam cocaína a elas. Essa menina teve uma overdose e, enquanto morria, foi trancada na casa por eles", relata. "As meninas ficam atraídas por esses rapazes que vêm de fora, acreditando que eles têm dinheiro e podem mudar a vida delas", opina.

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