Pimentão é considerado o item mais contaminado na mesa do brasileiro, segndo a Anvisa. Foto: Julio Jacobina/DP/DA Press
Diário de Pernambuco
O brasileiro consome mais agrotóxicos a cada ano. De acordo com o dossiê anual da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) no ano passado cada habitante ingeriu sete litros, em média - dois litros a mais que em 2013. Segundo especialistas, os produtores rurais se aproveitam da fiscalização insuficiente e utilizam o produto de forma exagerada.
A pedido do Diario, o laboratório de agrotóxicos e contaminantes Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) analisou duas amostras do alimento mais contaminado em 2014 de acordo com as pesquisas da Anvisa, o pimentão.
Dez pimentões foram coletados em uma barraca na feira livre do bairro do Cordeiro, e outros 10 em uma loja especializada de frutas e verduras. Ambos apresentaram graves violações nos tipos de substâncias presentes.
A Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), órgão estadual responsável por fiscalizar a venda, aplicação e transporte conta com 68 fiscais para monitorar todo o estado, e oito para o Recife.
Por limites financeiros, o órgão analisa apenas 15 amostras mensais de 12 alimentos diferentes recolhidos na Ceasa.
A análise de cada amostra tem custo médio de R$ 250. Em casos de violações, o produtor é rastreado e autuado em multas de até R$ 5 mil. Caso não se pague ou não se adeque, a plantação do produtor pode ser destruída. Este ano, foram oito produtores autuados até maio.
Subnotificação
Segundo o DataSus, 34.147 intoxicações por agrotóxicos foram registradas entre 2007 e 2014 no país. É comum, no entanto, que as doenças não ocorram a curto prazo, o que dificulta a associação entre causa e os sintomas. São facilmente detectáveis apenas as intoxicações agudas nas lavouras. Por isso, a Organização Mundial de Saúde estima que, para caso notificado, haja 50 ignorados.
Para Lia Giraldo, outro problema é a falta de capacitação dos médicos. “Não há disciplina de toxicologia nas faculdades. Nas consultas os pacientes não são perguntados sobre suas vidas ou trabalho. Dessa forma, não há como descobrir a razão do sintoma”, avaliou.