Pernambuco tem maior consumo de Ritalina no Nordeste

Antônio Assis
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A Ritalina é conhecida como a droga da obediência. Fotos: Brenda Alcântara/Esp/DP/D.A.Press

Ana Paula Neiva
Diário de Pernambuco

Desde a infância, a falta de atenção e de concentração atrapalhavam os estudantes Juliana, 20, e Mauro, 19 anos (nomes fictícios). Na adolescência, a situação ficou ainda mais complicada. Os dois receberam diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH) e passaram a usar o cloridrato de metilfenidato, Ritalina, conhecida como a droga da obediência. Os dois pernambucanos fazem parte da lista de brasileiros que nos últimos dez anos contribuíram com o crescimento das estatísticas da medicação de uso controlado no país. O último levantamento da Vigilância Sanitária Estadual, feito em 2010, aponta o estado como o maior consumidor do Norte e Nordeste. Na época, eram 8,06 caixas vendidas do medicamento para cada mil crianças e adolescentes. No Brasil, o consumo de Ritalina cresceu 1.973% entre os anos 2003 e 2013. No mesmo período, a venda da medicação passou de 94 kg para 1.949 kg.

Especialistas dizem que a ampliação do consumo está diretamente associada à expansão do diagnóstico de TDAH. O transtorno era considerado uma desordem emocional e o diagnóstico era dado a um número menor de crianças, segundo Denise Borges Barros, do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Hoje, diz ela, o transtorno é considerado um quadro psiquiátrico e envolve um número maior de sinais e sintomas. “O TDAH deixou de ser algo transitório, que terminava por volta dos 12 anos, passando a ser compreendido como um problema que persiste durante a adolescência e toda a vida adulta”, observa Denise Barros.

Com 30 anos de experiência em consultório, o psicólogo Carlos Brito teme pelo aumento do uso da droga. “É preciso ter cuidado com o diagnóstico de TDAH. Nem sempre a criança é portadora do distúrbio, mas acaba recebendo o tratamento de forma generalizada. O remédio virou a solução para criança agitada e hiperativa”, alerta.

Segundo Brito, adolescentes já chegaram em seu consultório pedindo para ser medicados. “A droga deve ser usada com cautela. Somente o neuropediatra ou psiquiatra podem prescrever”, esclarece o psicólogo. Brito acredita em outras alternativas para as crianças antes de apelar para a medicação de uso controlado. O psicólogo informa que o Brasil é o segundo país do mundo em consumo da droga, só perdendo para os Estados Unidos.

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