Congresso em Foco
As empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato destinaram 70% das doações
que declararam à Justiça eleitoral em 2010 e 2014 a candidaturas do PT, do PSDB
e do PMDB. Dos R$ 930 milhões (em valores atualizados pelo IPCA/IBGE) repassados
por essas empresas, R$ 660 milhões bancaram candidatos dessas três legendas. O
PT ficou com R$ 308 milhões (33%), o PSDB com R$ 189 milhões (20%) e o PMDB com
R$ 162 milhões (17%).
Essas construtoras financiaram, ainda, outras 25 legendas com R$ 270 milhões.
Ou seja, dos 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 28 (87%)
foram financiados nas duas últimas eleições gerais por empreiteiras acusadas
pelo Ministério Público Federal de integrar um cartel para desviar recursos da
Petrobras, o chamado “clube do bilhão”. Apenas o Psol, o PCB, o PSTU e o PCO –
legendas de esquerda e extrema-esquerda que não costumam receber doações de
empresas não foram beneficiadas pelo grupo.

Financiamento privado
Coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o juiz
Márlon Reis avalia que a difusão dessas doações entre os partidos enfraquece o
argumento da oposição de que apenas o PT se beneficiou da relação com as
empreiteiras. “A oposição está devendo à população um comportamento contrário ao
do governo. Ela está perdendo a oportunidade de denunciar as doações ilícitas”,
diz o juiz.
Para ele, o problema não se restringe a uma sigla ou outra, vem do modelo de
financiamento privado. “As doações provenientes de empresas investigadas na
Operação Lava Jato desmoralizam todos os que receberam os recursos, mesmo que
indiretamente”, afirma Márlon. Parte das contribuições não foi feita diretamente
aos candidatos, mas aos diretórios partidários, responsáveis pela distribuição
do dinheiro.
Em relação às eleições de 2010, não é possível identificar parte do destino
das doações feitas pelas empreiteiras investigadas. Em vários casos, os recursos
foram repassados aos partidos, mas não há registro de como foi feita a
distribuição entre seus respectivos candidatos. Em 2014, pela primeira vez, as
legendas foram obrigadas a informar à Justiça eleitoral a origem do dinheiro. Ou
seja, foi possível rastrear as doações.
Cinco vezes
De 2006 para 2010, o gasto das empreiteiras com campanhas políticas
aumentou
cinco vezes, como mostrou ontem (23) o Congresso em
Foco. Foi o maior salto registrado desde 2002. Somadas, em valores
corrigidos, as contribuições das empresas agora sob investigação na Lava Jato
passam de R$ 1,1 bilhão nas últimas quatro eleições gerais.
Os dados se referem às doações registradas na Justiça eleitoral por empresas
apontadas pelo Ministério Público Federal como integrantes do ‘cartel’ formado,
segundo os investigadores, para fraudar licitações, corromper agentes públicos e
desviar recursos da Petrobras, entre 2004 e 2012. Com exceção da Camargo Corrêa
e da Toyo Setal, cujos executivos fizeram acordo de delação premiada, as outras
14 suspeitas negam participação no esquema. Todas argumentam que as doações
eleitorais foram legais.