Como a internet fortalece o "pernambuquês" e desarma o preconceito

Antônio Assis
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No Instagram do Diario de Pernambuco e na página do Facebook do Pernambuco.com, a hashtag pernambuquês indica o projeto que apresenta aos internautas algumas expressões famosas. Foto: Facebook/Reprodução

Luíza Maia
Marina simões

Demonstrações de ódio e publicações preconceituosas contra nordestinos chamam a atenção nas redes sociais e, não raro, figuram entre os assuntos mais comentados na internet. Já viraram tema até de pesquisas universitárias. Mas, na contramão das polêmicas impulsionadas pela intolerância com relação às diferenças culturais e linguísticas, alguns perfis no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube exploram elementos da cultura popular, conversas de feira, de cozinha e de balcão.

Os garotos - a maioria com menos de 35 anos - são seguidos por milhões e levam para o mundo virtual o embate entre preconceito e estereótipo x orgulho e identidade cultural. “Elementos da cultura local são utilizados para produzir humor e convocam os internautas a se identificar, se reconhecer nesses elementos, seja através da língua, seja através de estereótipos, ou outros elementos da cultura local”, acredita Evandra Grigoletto, professora de letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).



Iniciativas como Gramática Recifense, I think it’s massa e Bíblia do Matuto, entre outras, reforçam a identidade do nordestino. O humor é característica marcante em todos eles. A base são expressões e gírias locais, elementos do cotidiano, hábitos do interior e elementos nostálgicos. Visse, oxente, bolo de rolo e tapioca proporcionam identificação imediata, o que faz com que cerca de 60% dos seguidores sejam nordestinos.

Os professores Marlos Pessoa e Stella Telles, da UFPE, ponderam que as páginas podem reforçar estereótipos, o que é uma desvantagem. “Essa tendência de 'julgar o outro', que é especificamente humana, envolve o julgamento da língua”, conta ela. E uma postura jocosa sobre sotaque, gírias e variações linguísticas pode desmerecer o outro. "Por outro lado, se o alvo do preconceito vivenciar circunstancialmente - por diversas razões conjugadas: históricas, econômicas, sociais - um processo positivo de apropriação de suas diferenças, o impacto do preconceito pode ser menor e o seu efeito poderá inclusive contribuir para o fortalecimento de sua identidade. Talvez essa última situação ocorra em Pernambuco, onde a valoração da cultura popular vem tomando proporções e dimensões altamente vigorosas e construtivas", considera Stella.

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