Substância tóxica produzida em cemitério no Recife pode estar contaminando poços

Antônio Assis
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Foto: Paulo Trigueiro/Esp.DP/D.A.Press

Diario de Pernambuco

Anualmente, os cadáveres sepultados no Cemitério de Santo Amaro, área Central do Recife, produzem cerca de 200 mil litros de uma substância altamente tóxica ao ser humano durante os processos de decomposição. O necrochorume é uma combinação de duas aminas: putrescina e cadaverina. O líquido produzido pelos corpos sepultados no chão contaminam o lençol freático, causando risco de envenenamento para quem beber a água dos poços localizados no bairro. 

Um projeto de lei, baseado nas pesquisas acadêmicas do hidrogeólogo Lezíro Marques, pretendia criar o serviço de cremação no Cemitério de Santo Amaro, mas foi vetado pela Comissão de Legislação e Justiça da Câmara de Vereadores do Recife nesta semana. O parecer da reunião indicou inconstitucionalidade do projeto, uma vez que a construção estaria no âmbito do poder executivo da cidade, ou seja, apenas o prefeito poderia criá-lo. 

O forno crematório combateria a contaminação do lençol freático e aliviaria os custos do município com a manutenção de covas. Com a cremação, haveria maior possibilidade de descontaminação do lençol freático já que a demanda de sepultamentos cairia. 

“Já estamos diminuindo o número de covas no chão. Os primeiros quarteirões já não recebem mais corpos, por exemplo. Se houvesse o crematório, iríamos utilizar apenas as gavetas rotativas, acabando com o problema” explicou o gerente de Necrópolis da Empresa, Petrus Pessoa. 

A economia estimada pelo propositor do projeto, o vereador Alfredo Santana (PRB), era de 78% para cada cadáver. “Enlgobando aparato pessoal, manutenção da cova durante os dois anos e um dia, a exumação e processo de enterro dos ossos, é gasto cerca de R$ 1,4 mil. Com o crematório, seriam gastos apenas R$ 300”, avaliou.

O Cemitério de Santo Amaro é o mais utilizado pela sua localização central. Visado pelas famílias da Região Metropolitana do Recife que não conseguem enterrar seus entes em suas cidades de origem, sepulta cerca de duas dezenas de pessoas em um dia. “As vagas não são um problema por enquanto, porque temos condições de abrir até de 30 covas por dia e enterramos sempre menos que isso”, explicou o gerente de Necrópoles da Emlurb, Petrus Pessoa. 

As covas abertas são sempre de corpos enterrados há dois anos e um dia. Ao serem exumados, os ossos são entregues à família que os requerem ou são enterrados novamente, dessa vez, embaixo da antiga cova. “No local, será sepultada outra pessoa. Se o corpo não tiver sido completamente decomposto esperamos mais dois anos e um dia”, explicou o adminstrador do cemitério de Santo Amaro, Rogério Ferro. 

Recife conta atualmente com cinco cemitérios públicos, todos administrados pela Emlurb, através de sua divisão de Necrópoles. O município tem, com os cemitérios de Casa Amarela, Tejipió, Várzea, Parque das Flores e Santo Amaro, uma despesa fixa de cerca de R$ 2,5 milhões anuais.

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