Picolé de leite materno refresca bebês no verão

Antônio Assis
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Alice Souza
Diario de Pernambuco

Juliana Carvalho faz peitolé para sua filha Julia desde que ela tinha quatro meses de idade. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Uma nova mania está conquistando as mães no verão: o peitolé, um picolé feito à base de leite materno. A ideia, cada vez mais disseminada em redes sociais, é apontada como uma alternativa para amenizar os efeitos das altas temperaturas e também como forma de aliviar as dores provocadas pelo surgimento dos primeiros dentes nas crianças. Mas sem uma comprovação científica dos efeitos da transformação do leite materno em sorvete, a técnica é vista com ressalvas pelos pediatras.

A enfermeira obstetra Juliana Carvalho, 34 anos, conheceu o peitolé por meio de um grupo do Facebook quando a filha, Julia, tinha quatro meses. Na época, decidiu testar a “inovação” por causa do calor. “Geralmente dava um ou dois sorvetes por dia. A adaptação dela foi tranquila e até hoje, mesmo com um ano de idade e já comendo outras coisas, ainda faço”, conta a enfermeira.
Rayra Cavalcanti, 26 anos, descobriu o peitolé há mais tempo e, a princípio, não achou a iniciativa muito interessante. “Só que minha filha começou a dar os sinais de dentição aos três meses. Como não sou a favor de medicamentos, comecei a fazer o sorvete e deu certo”, disse ela, que no início segurava o picolé de leite humano para Maria Eduarda, hoje com dois anos. “Como ela não era acostumada ao gelado, achou estranho, mas logo se adaptou. Fiz até ela completar um ano e três meses.”

Não há literatura médica sobre o consumo do peitolé, por isso o indicado é restringir a opção a crianças maiores de um ano, disse a pediatra e coordenadora do Banco de Leite Humano do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Vilneide Braga.

Segundo ela, o congelamento do leite materno mata células importantes de proteção contra infecções e outras doenças. “Os bebês menores são mais vulneráveis, então não podemos prescindir de nenhum fator de proteção”, explicou Vilneide Braga. Apesar disso, desde que a ordenha seja feita em condições adequadas de higiene, ela não se contrapõe ao método para crianças maiores. E acrescenta que o congelamento não traz risco de amigdalite ou resfriados.

O leite materno pode ficar congelado por no máximo 15 dias. Depois disso, o produto sofre alterações na sua composição físico-química. O indicado é esterilizar o material onde será colocado o peitolé, limpar os seios antes de retirar o leite e fechar bem o recipiente com a coleta, pois o leite humano tem a propriedade de absorver o sabor e o cheiro de tudo o que estiver próximo, no freezer.

A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda a prática. Por meio de nota, a entidade afirmou que existe uma padronização da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano para o congelamento e acondicionamento do leite para uso de bebês que dele necessitam, e não para picolés. E que congelá-lo ou esquentá-lo de maneira artesanal pode trazer alguma perda em sua constituição.

Saiba Mais

Cuidados na hora de fazer o peitolé

Lavar bem as mãos com água e sabão

Limpar as aréolas

Desprezar os cinco primeiro jatos de leite

Colocar o leite em um recipiente esterilizado

Evitar colocar nas formas de gelo

Tampar o recipiente

Levar ao freezer

Deixar guardado por no máximo 15 dias

Fontes: Imip e http://www.redeblh.fiocruz.br

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