Ambientalista diz que Compesa mente sobre causas da crise hídrica na Barragem de Botafogo

Antônio Assis
0
Blog do Jamildo

Herbert Tejo
Presidente do Fórum Sócio Ambiental de Aldeia (FSaA)

Na semana passada, a Compesa anunciou o estado de quase calamidade em que a Barragem de Botafogo se encontra.
Com apenas 16% de sua capacidade, e caindo, o baixo nível da reserva já prejudica quatro municípios do norte do estado (Olinda, Igarassu, Paulista e Abreu e Lima), que desde dezembro de 2014 tem seu fornecimento racionado.
A explicação do órgão público é a de falta de chuvas.
Para o Fórum Socioambiental de Aldeia, a informação não é correta e basta analisar os gráficos das precipitações pluviométricas dos últimos anos para provar esta afirmação.

Através de gráficos de estudos em dois dos principais postos de medição pluviométrica localizados na área de influência da barragem – Igarassu (Barragem Catucá) e Araçoiaba (Granja Cristo Redentor, que iniciou medições em 2013), o FSaA demonstra a discrepância existente entre os dados apresentados à mídia e à população e os registrados pela APAC (Agência Pernambucana de Água e Clima).
“Definitivamente não se pode atribuir à falta de chuva o colapso da Barragem Botafogo, e por consequência o déficit do Sistema Botafogo, do qual a represa é o principal protagonista, mas não único. É uma tese falsa. É uma ideia que tenta camuflar as verdadeiras razões pelo colapso que passa a represa”, diz o engenheiro Herbert Tejo, presidente do FSaA. No gráfico, lê-se uma comparação entre os índices das estações Catucá e Araçoiaba nos anos 2013 e 2014:
“Como moradores de Aldeia e, portanto, residentes da área de influência da Barragem de Botafogo, definitivamente não foi o que observamos ao longo de 2014. Pelo contrário, foi um ano que choveu bem. Quem pedalava nas trilhas de Aldeia enfrentou lama o ano inteiro, gramados praticamente não foram aguados e permaneceram verdes, enfim, a lembrança é a de um ano chuvoso!”, diz Tejo.
“Deveria, portanto, haver algo errado”, diz.
Para o presidente da entidade ambientalista, o problema é que o Estado de Pernambuco e a Compesa não cuidam dos rios que alimentam o Sistema Botafogo, nem do território que forma a bacia hidrográfica de seus mananciais.
“A verdade é que desde o início da operação do sistema, em 1986, o que se tem visto é destruição de matas, de matas ciliares, de matas que protegem as nascentes e os cursos dos rios, da extinção de nascentes, do adensamento populacional em Área de Proteção de Mananciais”, diz Herbert Tejo. “Sem matas não há nascentes nem rios e que o caso Cantareira está estampado na mídia mostrando na pele de milhões de pessoas esta verdade”.
Segundo Herbert Tejo, ironicamente no mesmo ano de 1986 foi decretada uma lei estadual (a nº 9.860, de 12 de agosto), cujo objetivo era “Delimitar as áreas de proteção dos mananciais de interesse da Região Metropolitana do Recife, e estabelecer condições para a preservação dos recursos hídricos”.
“Ocorre que essa Lei é desrespeitada sistematicamente pela CONDEPE/FIDEM e pela CPRH, responsáveis pelo licenciamento de empreendimentos. Condomínios e loteamentos pipocam na região, provocando adensamento populacional, o que contraria frontalmente o espírito da lei e suas determinações”, afirma.
“As duas instituições autorizaram a construção de um complexo de termelétricas que queimam 3.000.000 (três milhões) de litros de óleo diesel por dia exatamente defronte da represa de Botafogo! Dentro da área central da bacia hidrográfica, onde se situam os rios que compõem o sistema. Como se não fosse suficiente, a CONDEPE/FIDEM defende um trajeto de ARCO VIÁRIO que destruirá as matas que protegem as nascestes dos rios PITANGA e UTINGA, depois do CATUCÁ, os principais rios que formam o Sistema Botafogo. É surreal!”, diz, declarando-se espantado.
Para os vários profissionais que compõem o FSaA – entre eles engenheiros, biólogos e agrônomos – diversos elementos influenciam a queda drástica nos níveis d’água do reservatório. Porém, o volume de chuvas certamente é o que menos sugere o colapso. De acordo com os estudos da entidade, os fatores principais são outros.
“A falta de vegetação ciliar ao longo dos rios Catucá, Cumbe, Pilão e Arataca/Jardim que alimentam a represa, a falta de vegetação ciliar na própria represa e em seu entorno ampliado que resulta num alto grau de evaporação, a desertificação da região, a provável perda ao longo do sistema, o provável aumento do consumo e o assoreamento resultante do desmatamento”, lista.
“Concluindo, fica o questionamento do Fórum Socioambiental de Aldeia sobre a correção dos dados divulgados pela Compesa e o porquê do segredo. Fica também a pergunta às autoridades e à própria população pernambucana. Que tipo de futuro estamos preparando para as novas gerações e para nós mesmos, já que as consequências do descaso já estão aí assombrando em forma de racionamento e com o caso Cantareira que não nos deixa esquecer?

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)