Verônica Santana, 44, espera abraçar Tatiana, que hoje está com 31 anos
Jaílson Paz
Diario de Pernambuco
Uma década e meia se passou do único encontro de Verônica Silva de Santana, 44 anos, com a irmã Tatiana, 31. Foram 20 minutos sem troca de palavras e gestos de carinho. Então considerando-se filha única do pai, o técnico em eletrônica Adalberto Ferreira de Santana, Verônica ficou em silêncio. Mas o tempo… Esse fez a pedagoga mudar. Superado o choque da descoberta e o ciúme por dividir o espaço de “princesa”, Verônica peregrina pelo Recife para reencontrar Tatiana. Ela quer a irmã ao seu lado, porém antes quer pedir perdão.
Tema recorrente nas religiões, o perdão entrou na lista de pesquisas da psicologia. Por um motivo citado por Verônica: o de fazer bem. “Os benefícios que o comportamento de perdoar podem produzir englobam aspectos físicos, psicológicos e mesmo espirituais”, atesta Rodrigo Santana, autor do Estudo das relações entre a atitude de perdoar ofensas interpessoais e os esquemas iniciais desadaptativos. Mestre em psicologia, ele afirma que o perdão pode afetar a saúde física das pessoas. Isso porque o ato de não perdoar gera estresse elevado e frequente, influenciando de forma negativa, por exemplo, os sistemas imunológico e cardiovascular.
Os efeitos positivos são percebidos tanto no perdão para atos extraordinários quanto para as questões menores, cotidianas. Assim, segundo o pesquisador, como acontece com outros comportamentos, perdoar se torna mais fácil com a prática. E essa prática, sob os preceitos do Cristianismo, é uma exigência evangélica. “Nem sempre é fácil perdoar, porém não tem justificativa para se negar o perdão, pois o Cristo perdoou na cruz quem o matava”, afirmou dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife. Para o líder religioso, o perdão leva ao encontro da paz interior, o que Verônica procura na irmã Tatiana.
Uma casa à espera de Tatiana
Verônica guarda os detalhes do encontro com Tatiana, de quem desconhece o sobrenome. Era dia 3 de dezembro de 2000, quando uma adolescente bateu no portão da casa dos pais da pedogoga. Coube à mãe de Verônica, Lucinéia Silva de Santana, 68, receber a desconhecida, Emocionada, Tatiana falava em conhecer a irmã. Lucinéia se assustou com a descoberta.
“A menina chorava muito e respondeu todas as perguntas feitas. Tive a certeza de que era filha de Adalberto”, lembra Lucinéia. A adolescente tinha fisicamente as característas do pai, que permaneceu calado, naquele dia, enquanto a mulher falava com ela. Lucinéia encontrou Tatiana outra vez, enquanto essa passava em um ônibus pelo bairro de Boa Viagem.
Na época desse encontro, Tatiana revelou ter se casado, o que faz Verônica imaginar ter sobrinhos. “É um sonho de minha filha reencontrar a irmã. Respeito a decisão e minha casa está aberta para ela”, disse Lucinéia. O endereço é o mesmo, no Zumbi do Pacheco, no Recife.