O momento de pedir perdão

Antônio Assis
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Verônica Santana, 44, espera abraçar Tatiana, que hoje está com 31 anos

Jaílson Paz
Diario de Pernambuco


Uma década e meia se passou do único encontro de Verônica Silva de Santana, 44 anos, com a irmã Tatiana, 31. Foram 20 minutos sem troca de palavras e gestos de carinho. Então considerando-se filha única do pai, o técnico em eletrônica Adalberto Ferreira de Santana, Verônica ficou em silêncio. Mas o tempo… Esse fez a pedagoga mudar. Superado o choque da descoberta e o ciúme por dividir o espaço de “princesa”, Verônica peregrina pelo Recife para reencontrar Tatiana. Ela quer a irmã ao seu lado, porém antes quer pedir perdão.

“Não posso exigir que Tatiana me perdoe, mas sinto necessidade disso para ficar bem comigo e, sabe Deus, com ela”, confessou. Se o pedido vier acompanhado do perdão, melhor. De formação cristã, Verônica enxerga o pedir perdão e o perdoar como duas das atitudes mais difíceis para o ser humano. É! Escritor e um dos líderes da Revolução Americana, que resultou na independência dos Estados Unidos, Benjamin Franklin incluía o perdoar na lista das coisas mais difíceis do mundo. As outras eram guardar um segredo e aproveitar o tempo.

Tema recorrente nas religiões, o perdão entrou na lista de pesquisas da psicologia. Por um motivo citado por Verônica: o de fazer bem. “Os benefícios que o comportamento de perdoar podem produzir englobam aspectos físicos, psicológicos e mesmo espirituais”, atesta Rodrigo Santana, autor do Estudo das relações entre a atitude de perdoar ofensas interpessoais e os esquemas iniciais desadaptativos. Mestre em psicologia, ele afirma que o perdão pode afetar a saúde física das pessoas. Isso porque o ato de não perdoar gera estresse elevado e frequente, influenciando de forma negativa, por exemplo, os sistemas imunológico e cardiovascular.

Os efeitos positivos são percebidos tanto no perdão para atos extraordinários quanto para as questões menores, cotidianas. Assim, segundo o pesquisador, como acontece com outros comportamentos, perdoar se torna mais fácil com a prática. E essa prática, sob os preceitos do Cristianismo, é uma exigência evangélica. “Nem sempre é fácil perdoar, porém não tem justificativa para se negar o perdão, pois o Cristo perdoou na cruz quem o matava”, afirmou dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife. Para o líder religioso, o perdão leva ao encontro da paz interior, o que Verônica procura na irmã Tatiana.

Uma casa à espera de Tatiana

Verônica guarda os detalhes do encontro com Tatiana, de quem desconhece o sobrenome. Era dia 3 de dezembro de 2000, quando uma adolescente bateu no portão da casa dos pais da pedogoga. Coube à mãe de Verônica, Lucinéia Silva de Santana, 68, receber a desconhecida, Emocionada, Tatiana falava em conhecer a irmã. Lucinéia se assustou com a descoberta.

“A menina chorava muito e respondeu todas as perguntas feitas. Tive a certeza de que era filha de Adalberto”, lembra Lucinéia. A adolescente tinha fisicamente as característas do pai, que permaneceu calado, naquele dia, enquanto a mulher falava com ela. Lucinéia encontrou Tatiana outra vez, enquanto essa passava em um ônibus pelo bairro de Boa Viagem.

Na época desse encontro, Tatiana revelou ter se casado, o que faz Verônica imaginar ter sobrinhos. “É um sonho de minha filha reencontrar a irmã. Respeito a decisão e minha casa está aberta para ela”, disse Lucinéia. O endereço é o mesmo, no Zumbi do Pacheco, no Recife.

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