Deus te livre do mau vizinho - Magno Martins

Antônio Assis
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A rotina pesada de blogueiro, escravo da notícia, rouba meu tempo das crônicas, que adoro escrever. Crônicas nascem do passado e do presente, do quotidiano, na maioria das vezes inspiradas em episódios que nos marcam profundamente. Em Afogados da Ingazeira, nos meus anos dourados, havia um cego que adotou uma regra básica para agradecer a esmola.
“Deus te livre do mau vizinho que é a pior praga que existe”, repetia, incansavelmente, quando alguém lhe estendia a mão com uma oferta em dinheiro. Já li que quando Cristo andou no mundo, estando um dia à sombra de uma figueira, vendo Cefas Simão sentado sobre uma pedra teria exclamado: “Levanta-te daí, porque há 200 mil anos sentou-se nessa mesma pedra um mau vizinho”.
Atire a primeira pedra quem nunca teve um mau vizinho? A crônica, vale a ressalva, não foi provocada pelo meu vizinho, que é ótimo, educado e boa gente, mas tenho péssimas recordações de vizinhos insuportáveis. Em Brasília, um homem bravo, de energia pesada e negativa, já acabou uma festinha nossa jogando água quente nos convidados com um balde do terceiro andar.
Uma de minhas irmãs no Recife se mudou por causa de um vizinho louco, agressivo e violento, que exibia armas para amedrontar. Já um amigo me contou que um vizinho, num dia cólera, murchou os quatro pneus do seu carro na garagem.
Outro revelou que teve que se desfazer do seu apartamento, bem próximo da Jaqueira, onde moro hoje, porque um dia, ao chegar em casa, suas plantas na varanda haviam sido cortadas e seu cachorro envenenado. Mais tarde, descobriu ter sido arte do mau vizinho.
O desapontamento foi tão cruel que disse aos filhos que quando acabassem o Catecismo, que ora fazem, ao aprender os Dez Mandamentos da Lei de Deus, sugerissem o 11º: ser bom vizinho! Sob pena de, ao deixar a existência, ir padecer no fogo do inferno!
Contam nos livros de ficção que certa vez, um homem, extremamente invejoso de seu vizinho, recebeu a visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um desejo. "Você pode pedir o que quiser, desde que seu vizinho receba o mesmo e em dobro", sentenciou.
O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer vontade.
Existem pessoas assim, não se engane, que carregam uma carga de energia negativa muito grande e acabam transmitindo essa energia consciente ou inconscientemente. Quando desejam o mal, colocam olho grande, mau olhado. São pessoas que absorvem a energia negativa por viverem se lamentando, reclamando da vida, nada as satisfazem.
Os olhos são como lentes que concentram a energia do corpo e da alma, conseguindo transmitir um elevado grau de magnetismo e energia. Todo o olhar é poderoso, tanto pode curar, regenerar, abençoar e até ajudar uma pessoa a prosperar na vida.
Mas quando vindo de uma pessoa que tem o seu espírito e coração impregnado e cheio de inveja, ódio, despeito, rancor, raiva, malquerer, ganância, egoísmo e mais outros pensamentos negativos e de destruição, pode em casos extremos causar a morte a quem seja vítima desta forma de olhar, também chamada de mau olhado ou olho gordo.
Nunca havia parado para pensar sobre a filosofia do ceguinho de Afogados da Ingazeira. Mas quanto ele era sábio, hein?
Deus nos livre da praga do mau vizinho e da cobra que se esconde também!

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