Marília Arraes aponta intervenção pró-filho de Campos; Sileno Guedes nega

Antônio Assis
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(Reprodução: Internet)
Blog da Folha
A vereadora do Recife Marília Arraes utilizou sua conta no Facebook para apontar, de forma velada, uma suposta intervenção na Juventude Socialista Brasileira (JSB), braço do PSB, em favor do filho do ex-governador e presidenciável Eduardo Campos, João Campos. Segundo o texto divulgado pela parlamentar, há uma “articulação maior” para evitar a disputa interna pelos postos de presidente e secretário da instância e consagrar o jovem no segundo cargo, que garante assento na executiva estadual do partido. Marília destaca que o provável favorecido não tem “envolvimento na juventude partidária” e, portanto, sem os requisitos necessários para a missão.
A parlamentar também reclama de que esse provável tipo de intervenção, que substitui o processo eletivo interno, impede a juventude do partido de se organizar e abre a discussão sobre a validade da escolha por um nome com mais influência. Marília Arraes afirma que a escola política na qual se baseia – que fora liderada pelo seu falecido avô e ex-governador Miguel Arraes – possuía outros fundamentos.
“Ora, como podemos propor a formação de novos quadros, se impedimos a juventude de se organizar, articular e, por fim, legitimar a sua própria postulação? Ou devemos ensinar à nossa juventude (inclusive ao jovem beneficiado!) que é natural ao processo político ser escolhido por alguém influente? Perdoem-me, companheiros e lideranças partidárias, mas a escola política em que cresci não me ensinou esta fórmula”, escreveu.

Presidente do PSB estadual, Sileno Guedes confirmou que João Campos deverá assumir o posto de secretário da JSB. No entanto, o dirigente negou com veemência que o correligionário tivesse sido favorecido pelo simples fato de ser filho do ex-governador Eduardo Campos, principal liderança da sigla.
De acordo com Sileno, João Campos conseguiu construir um consenso entre as chapas que estavam na disputa, conquistando seus respectivos apoios. Guedes também destacou que o jovem correligionário está procurando fazer o caminho correto para ter uma militância partidária orgânica, sem precisar “pegar caminhos mais fáceis”.
“Ele está fazendo o caminho dele. Construiu o consenso democraticamente e não pode ser penalizado por ser filho de Eduardo. Ele não podia ser candidato (a deputado federal) por ser filho de quem é, como se especulou, e agora não pode discutir um caminho mais longo na militância partidária? Precisamos parar com isso”, cobrou Sileno.
A posição de Marília vem na esteira da especulação de a sua pré-candidatura à Câmara Federal sofre resistência no partido. Segundo informações de bastidor, a postulação não agradaria pelo fato de que ela poderia atrapalhar acordos celebrados pelo comando do PSB com postulantes de outras legendas da Frente Popular.
Confira o texto de Marília:
Sobre intervenção nos processos democráticos da JSB-PE

Talvez por ter tido intensa convivência com meu avô, Miguel Arraes, principalmente nos seus últimos anos de vida, tive a oportunidade de compartilhar com ele o ideal de que um partido bem estruturado, que forme quadros preparados e politizados, é essencial para a consolidação da nossa tão jovem democracia. Ainda faço parte da JSB-PE e acredito que a minha participação sempre ativa como militante foi de grande relevância para a minha formação política e contribuiu bastante no caminho que sigo hoje como vereadora do Recife, eleita por duas vezes, e como ex-secretária municipal de Juventude e Qualificação Profissional. Acredito (e acreditarei até os meus últimos dias) na importância da democracia e da liberdade de expressão.
Assim sendo, sinto-me atingida, como militante, ao ver um movimento oposto ao da democracia na JSB-PE. Após anos de formação, militância e articulação com as juventudes socialistas do interior e da Região Metropolitana do Recife, foram formadas duas chapas, compostas por jovens companheiros que dedicaram alguns de seus poucos anos de vida à militância partidária. As chapas seriam submetidas a disputa por voto dos delegados municipais, ou então por um acordo e composição, conduzida por estes mesmos jovens quadros em formação. Todo o movimento faz parte da formação política de nossos futuros líderes e é de suma importância pra construção de um partido onde impere a legitimidade.
O processo, no entanto, está sendo comprometido. Existe uma articulação maior para que outro jovem, sem envolvimento na juventude partidária, assuma o posto de Secretário Estadual da JSB-PE, cargo principal, por meio do qual terá assento na Executiva Estadual do PSB.
Ora, como podemos propor a formação de novos quadros, se impedimos a juventude de se organizar, articular e, por fim, legitimar a sua própria postulação? Ou devemos ensinar à nossa juventude (inclusive ao jovem beneficiado!) que é natural ao processo político ser escolhido por alguém influente? Perdoem-me, companheiros e lideranças partidárias, mas a escola política em que cresci não me ensinou esta fórmula.
Sei que muitos que estão lendo devem concordar com tudo o que foi exposto e, por um motivo ou outro, não podem se manifestar. Entretanto, o importante é que saibamos qual o caminho correto e que busquemos, da forma que for possível, fazer da política um instrumento de fortalecimento da justiça social e da democracia.
Marília Arraes
Vereadora do Recife (PSB-PE)
Membro da JSB- PE

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