Carolina Leão
Folha-PE
Uma pequena vila residencial, entre Recife e Olinda, vem há décadas protagonizando um impasse urbanístico. Isolada do convívio social, fechada como uma pequena cidade medieval, a Vila Naval, de propriedade da Marinha, é dona de um dos territórios mais cobiçados pelas iniciativas pública e privada, por concentrar uma área subocupada - que poderia transformar tanto o tráfego quanto a forma de moradia e do comércio do local. Até o segundo semestre, entretanto, seu destino será redefinido: já está em análise, na Câmara dos Vereadores, o Projeto de Lei da Prefeitura do Recife que irá viabilizar intervenções urbanas e viárias, com as quais o atual desenho urbano da Vila será riscado do mapa, definitivamente, para dar lugar a um novo conceito de cidade. A Cruz Cabugá será alargada e a área da Marinha cederá seu lugar a complexos imobiliários.
Essa, no entanto, não é a primeira proposta que prevê uma reestruturação do espaço. Na verdade, ele integra uma das áreas naturais mais nobres da cidade e completa um amplo complexo paisagístico, cuja extensão segue até o bairro do Pina. Em 1998, aliás, o Projeto Urbanístico Recife-Olinda pretendia requalificar a área, através de um planejamento panorâmico que incluía 8 km de extensão, o equivalente a 1,5 milhão de metros quadrados em área livre, distribuídos da Colina Histórica de Olinda ao Parque da ex-estação Rádio Pina, no Pina. Essa dimensão urbanística comungava de algumas características em comum, apesar de pertencer a bairros e cidades distintas, como ser um espaço degradado, de baixo adensamento populacional e situado nas chamadas frente d’águas, com paisagens naturais majesto sas (por isso, a procura do mercado imobiliário).
À frente do projeto, Amélia Reynaldo relembra que de 2003 a 2006 ele foi tocado com outro nome: Frente Atlântica. A rubrica tinha sua razão. Havia uma unidade paisagística nesse espaço, que articulava as duas cidades com a paisagem natural formada pelo curso do Beberibe e o encontro deste com o Capibaribe, até o Oceano. O Frente-Atlântica foi uma experiência modelo na cidade e boa parte das atuais implementações promovidas pela Prefeitura do Recife acabam tocando empontos já analisados por ele, como a reocupação da cidade através da construção de edifícios de usos mistos, comerciais e residenciais, por exemplo.
Para a sua realização, foram gastos R$ 5 milhões, por meio de uma cooperação entre a Prefeitura de Olinda e Recife, Governo do Estado e Fidem, em estudos de mobilidade, paisagem, impacto social e ambiental. Em seu planejamento original, incluía urbanização de áreas degradadas, que teriam sua infraestrutura requalificada, ampliando as opções de interação social, com equipamento comunitários e turísticos. À época, estimava-se que a intervenção seria feita a médio prazo, em torno de 15 a 20 anos. Nada foi feito. “Houve omissão do Estado”, acredita o arquiteto Múcio Jucá.