Por conta de menos de cem manifestantes postados de forma pacífica defronte à catedral do Rio, a Arquidiocese local cancelou a encenação da Paixão de Cristo, na quinta-feira, a Vigília Pascal, de sexta para sábado, e a missa da Páscoa, ontem. O cardeal D. Orani Tempesta não explicou por que, imaginando-se ter sido por excepcionais razões. Foi quebrada a tradição de muitas décadas.

Será que os sem-teto postados em frente à catedral, com mulheres e crianças, ouviram coisa parecida? Eles haviam sido expulsos do prédio onde se tinham assentado e, sem ter para onde ir, acamparam em terreno da catedral. Poderiam até ter participado das cerimônias sacras, mesmo sujos, famintos e mal vestidos. Faz tempo que o comunismo saiu pelo ralo, não se encontrando outra explicação a não ser de que a péssima condição humana do grupo feriu os sentimentos do cardeal.
Aguarda-se uma explicação da Arquidiocese, lembrando-se que no intervalo entre os dois episódios a Igreja evoluiu do apoio inicial ao golpe de 64 a uma posição de resistência fundamental à ditadura e à adoção de mil posturas em favor dos pobres e oprimidos. Na mesma hora em que no Rio eram canceladas as cerimônias sacras, no Vaticano o Papa Francisco lavava e beijava os pés de infelizes e humildes irmãos despojados pela sorte.
NÃO TINHAM OUTRO LUGAR?
Quem passou pela Esplanada dos Ministérios neste feriado prolongado terá imaginado se o governo mudou-se para outro lugar. Porque o número de barracões plantados no gramado, sob os mais diversos pretextos, transformou profundamente a paisagem. E terá deixado para a limpeza urbana toneladas de lixo e de detritos. Não teriam outro lugar para comemorar o aniversário da cidade e o sacrifício de Tiradentes?