Os dois lados de um exílio

Antônio Assis
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Suetoni Souto Maior
Diário de Pernambuco


As visões de mundo e as percepções em relação a 31 de março de 1964 são diferentes. Um chama de golpe militar, o outro, de revolução. O primeiro, Alexandrino Rocha, foi secretário de Imprensa no primeiro governo de Miguel Arraes. Foi preso cinco vezes e torturado em cada um desses momentos. O outro, Ney Maranhão (PTB), era deputado federal e, como hoje, grande proprietário de terras. Foi cassado e “jogado” no Hotel Capibaribe Palace, como ele chama a antiga Casa da Detenção, hoje Casa da Cultura, no Recife. Apesar disso, ao contrário de Alexandrino, diz que a tomada de poder pelos militares foi um remédio amargo, mas necessário naquele momento “por causa dos agitadores”.


Alexandrino recebeu a reportagem em sua casa, no bairro do Cordeiro, no Recife. Uma queda, recentemente, fez com que ele fraturasse o fêmur, o que tem impossibilitado a sua locomoção. Aos 83 anos, lembra como se fosse hoje o dia em que, aconselhado por Arraes, no dia 31 de março de 1964, deixou o Palácio das Princesas. Ele já não dormia havia três dias. Já em casa, enquanto descansava, foi despertado com a notícia de que o governador estava sendo preso. Tentou voltar, mas foi impedido. Três dias depois, ele próprio, com metralhadoras apontadas para si, foi detido e levado ao cárcere, onde foi brutalmente torturado e ameaçado. 



Na sua fazenda, em Vitória de Santo Antão, Ney Maranhão não se furta a dar entrevistas. Aos 87 anos, bem vividos, ele reforça, leva uma rotina distante da de um aposentado. Ele foi senador, quatro vezes deputado federal e prefeito da cidade de Moreno. Calçando as alpercatas que o fizeram conhecido desde a posse, no Senado, diz estar bem condicionado fisicamente, graças aos ensinamentos da medicina chinesa. Ao falar dos anos de chumbo, diz que muita coisa foi distorcida de uns tempos para cá e acredita que os militares tomaram o poder “de boa-fé”. Questionado sobre as denúncias de torturas, ele não nega que tenha havido, mas diz que “quem vai para a chuva é para se molhar”. Com um revólver calibre 38 sempre ao alcance, exibiu a mão firme para dizer que renovou o porte de armas recentemente. Com boa relação com os chineses, é senador honorário na China, diz acreditar que os brasileiros precisam aprender com o país oriental, onde a família é o pilar da sociedade. Confira os principais trechos das entrevistas. 


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