Adriana Caitano
Correio Brasiliense
Inspirada no parlamento de Washington, a série House of Cards movimenta a rotina de fãs e políticos da vida real
Olhares de políticos do mundo inteiro estiveram atentos ontem a uma estreia ligada à realidade que lhes cerca. Jogos, interesses e negociações em torno do poder baseiam a série que faz a cabeça de poderosos há um ano e acaba de ganhar uma segunda temporada: House of Cards. A história se passa na capital dos Estados Unidos, Washington, e retrata os caminhos de um parlamentar para alcançar o posto máximo do país. Qualquer semelhança com o que se vê na vida real brasiliense não é mera coincidência. Assim como a sede do governo americano, Brasília respira os ares do poder e, portanto, a identificação com o enredo é imediato.
No programa que reestreou ontem, com todos os 13 episódios de uma vez disponíveis no Netflix, não há heróis. Baseada em livro homônimo do inglês Michael Dobbs, a série narra a trajetória de Francis Underwood, um deputado inescrupuloso em busca de ascensão política em Washington. Quando estreou em fevereiro de 2013, House of Cards foi sucesso imediato e conquistou milhões de fãs pelo mundo. A série também coleciona adeptos entre os políticos de verdade.
Um dos principais fãs conhece muito bem o universo político de Washington. O presidente Barack Obama já tinha demonstrado anteriormente sua ansiedade pela estreia da nova temporada. Em dezembro passado, no fim de uma reunião sobre a Agência de Segurança Nacional (ANS, na sigla em inglês), o presidente americano confessou a um dos diretores do Netflix seu amor pelo thriller.
Na mesma ocasião, Obama disse esperar que as coisas em Washington pudessem ser resolvidas tão rapidamente quanto na ficção. Na noite de quinta-feira, em mais uma demonstração de interesse, o presidente norte-americano divulgou uma mensagem nas redes sociais fazendo um pedido aos seus seguidores: “Nada de spoilers, por favor”, em referência ao apelido dado a revelações antecipadas sobre o roteiro.
Assíduos
Em Brasília, a série também tem espectadores de elite. A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admitiram que acompanham os episódios com afinco. O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), revelou ao Correio que já assistiu a “pedaços sem sequência” de House of Cards e que pretende vê-la por completo. “Vi um ou outro, sem tempo para tal. Mas (ouvi) muitos elogios ao seriado, vou tentar me atualizar”, comentou.
O deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) assume ser fã da série e ter aguardado ansiosamente pela estreia da segunda temporada. “Ela mostra a que nível podem chegar as rasteiras na política. Mostra o lado pior das articulações e tramas que podem ser armadas e ajuda a gente a se preparar para não ser vítima daquelas sujeiras”, destaca.
O também deputado Fernando Coelho Filho (PSB-PE) se disse viciado e sugeriu a seus seguidores em uma rede social que acompanhassem o programa. “Segunda temporada começa essa sexta, para quem não viu a primeira ainda, recomendo! Vale muito (a pena), mas comece com tempo, porque você não consegue parar.”
Para moradores da capital que acompanham o programa, o diferencial está na forma como os políticos são retratados. O estudante de comunicação social Raphael Sandes justifica o interesse por acreditar que, por mais que seja uma obra de ficção, o programa é um retrato desse mundo, mesmo que exagerado.
A ansiedade para descobrir como se desenvolverá a história do congressista é tanta que o estudante garante que assistiu todos os episódios da primeira temporada em menos de uma semana. “E com a segunda estava fazendo contagem regressiva”, afirma. A relação de Francis Underwood com a imprensa também chama a atenção. “É interessante saber que, de certa forma, é assim mesmo que acontece. A política é uma troca.”
Com Gabriela Caldas e Juliana Figueiredo, especial para o Correio Braziliense/Diario de Pernambuco