Escritor deixa livros em locais públicos para incentivar leitura

Antônio Assis
0
Marcionila Teixeira
Diário de Pernambuco
“Esse livro foi ‘esquecido’ para que você o leia. Leve-o para casa e, se não gostar, não há problema. Só peço que ‘esqueça’ em outro lugar. Pode ser que alguém goste. Esquecer livros para que outras pessoas os leiam pode ser uma utopia, mas é uma utopia possível”. Já imaginou encontrar um livro contendo um bilhete com tais dizeres em um lugar inusitado? Pelo menos 40 publicações com essa mensagem acrescidas de um e-mail para contato foram deixadas em estabelecimentos e espaços públicos do Recife nos últimos seis meses. A iniciativa é do escritor Paulo Paiva, 68 anos. Depois de editar seis obras próprias, ele viu que era hora de democratizar gratuitamente seus romances, crônicas e contos que se acumulavam em casa.

A iniciativa toma como referência o conceito de bookcrossing, ou seja, o ato de “esquecer” livros em lugares públicos para que as pessoas possam encontrá-los, lê-los e, eventualmente, deixá-los em outro lugar para que mais pessoas os achem. Em um país onde a média de livros lidos por habitante é de quatro obras por ano, sendo 2,1 livros inteiros e dois em partes, segundo dados da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, “esquecer” livros, para Paulo Paiva, é como a história do velho que carrega um balde para apagar um incêndio. “Um sujeito perguntou: você acha que vai apagar o fogo com esse baldinho? O velho respondeu: não, estou apenas fazendo minha parte”, reflete o escritor.

De todos os livros que espalhou pela capital, somente três pessoas retornaram para comentar as obras. “Nunca deixei no metrô, por exemplo, mas me mandaram uma mensagem dizendo que encontraram um exemplar em um dos vagões. Imagino que seguiram a orientação do bilhete e repassaram a obra para outro ambiente”, supôs.

Em outra ocasião, Paulo Paiva foi surpreendido com um e-mail de uma leitora que disse ter encontrado a publicação em uma padaria, em Boa Viagem. “Ela comentou que estava passando por um momento ruim e foi bom ter acesso ao livro. Certa vez, também fui deixar um livro em um banco quando uma funcionária me chamou para dizer que eu tinha esquecido o livro. Achei melhor confirmar a informação dela e agradecer do que ter que explicar meu real objetivo. Depois, voltei lá e ‘esqueci’ o livro novamente”, lembrou o escritor.

Um projeto semelhante, o Livro livre, também busca ampliar o acesso do público à leitura de forma gratuita. A iniciativa é da Secretaria de Cultura do estado e da Fundarpe e começou em outubro. Toda primeira sexta-feira do mês, é aplicada em vários lugares.

Blog socializa conhecimento
Outra iniciativa na área de leitura também já começa a ganhar fãs no Recife. É o blog Livro Leve Solto (livrolevesolto.tumblr.com e livrolevesolto.wordpress.com). Além de dar indicações de sites literários, o responsável pelo blog, o jornalista Tiago Cisneiros, 23 anos, também oferece vídeos, resenhas e, por fim, ações sociais, batizadas de Passe Livro. A ideia desta primeira ação social é promover a doação de livros usados.

“O processo é simbólico e semelhante à remoção das catracas que separam parte da população da leitura e do estudo. Ou seja, queremos facilitar o acesso para eles ao livro”, explica Tiago Cisneiros. Junto a amigos das redes sociais, ele já conseguiu arrecadar mais de 500 livros variados (didáticos, infantis, clássicos, conhecimentos gerais e poesia).

O material será doado para bibliotecas comunitárias e instituições, como o abrigo Cristo Redentor, em Jaboatão dos Guararapes, que já recebe as obras neste domingo. Outro foco é a biblioteca comunitária da comunidade Caranguejo Tabaiares, no bairro da Ilha do Retiro, e um curso para concursos voltado a pessoas de baixa renda. Para os que gostam de navegar nas redes, Tiago avisa que também criou uma página no Facebook para divulgar as ideias.

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)