Viagem à memória de dom Helder Camara

Antônio Assis
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Cleide Alves
JC Online

Hélia Scheppa/JC Imagem
Toda vez que lia um livro, dom Helder Camara (1909-1999), sublinhava frases, destacava parágrafos inteiros e fazia anotações nas páginas, de caneta, comentando a leitura. Numa dessas publicações, "Diálogos com Paulo VI", do jornalista francês Jean Guitton, ele registra suas impressões sobre a censura que recebia da Igreja Católica. O ano era 1969, em plena ditadura militar no Brasil, e dom Helder, arcebispo de Olinda e Recife, tinha sido proibido pelo Vaticano de fazer viagens internacionais.
“Agora, entendo ainda mais, uma carta autografada que tive a honra e a tristeza de receber numa Sexta-Feira Santa. 1969, julho: agora, a Providência me torna membro da igreja silenciosa...”, desabafa o religioso numa das páginas do livro. A correspondência a que dom Helder se refere tinha sido enviada pelo cardeal Giovanni Benelli (1921-1982) e dizia para ele se ocupar com a arquidiocese, porque o peregrino da Igreja é o papa.
Dom Helder vivia, naquela ocasião, o momento de maior inquietude com relação à figura do pontífice, avalia a historiadora Lucy Pina. “Por conhecer Paulo VI antes de ele ser papa (1963-1978), o arcebispo não entendia como ele concordava com uma proibição sem fundamento. Essa revolta silenciosa está estampada no livro”, conta Lucy, que pesquisa o acervo do chamado Dom da Paz para contextualizar as anotações. “Compreendi o significado das notas quando achei e li a carta de Benelli, datada de 1969”, acrescenta.

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