"Hoje é muito fácil falar em nova política", provoca Daniel Coelho

Antônio Assis
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Bruna Serra
JC Online

De estilo direto, o deputado Daniel Coelho (PSDB), líder da oposição na Assembleia Legislativa – que ainda não decidiu se tentará mandato para a Câmara Federal ou governo do Estado – viu seu nome entrar no foco de 2014 desde que apareceu com 11% das intenções de voto na pesquisa IPMN/JC. O tucano afirma que, hoje, falar em nova política é muito fácil, mas o difícil é praticar uma nova forma de agir quando já se participou de governo, do “toma lá da cá” de cargos.

JORNAL DO COMMERCIO – Como é fazer oposição num Estado em que o governador tem ampla aprovação?DANIEL COELHO – Como a gente faz oposição pautada em fatos reais, que incomodam a população, pouco interessa a aprovação. Por exemplo: quando fizemos a cobrança da manutenção da BR-101 na Região Metropolitana. Ele não consegue ir lá e dizer que estava em bom estado porque o buraco está lá! Quando nós fizemos a cobrança para que reduzisse em cerca de mil cargos comissionados, o governo negou e teve que fazer. Era um fato. E ele (o governador Eduardo Campos, do PSB) lançando essa candidatura à Presidência não iria ficar exposto moralmente no governo dele. O que é difícil é sobreviver política e eleitoralmente num ambiente como a gente vive em Pernambuco. Num ambiente onde você tem – alguns por admiração, mas muitos pelo medo – uma posição de alinhamento absoluto. Tanto nas ideias quanto na política. Aí, é muito difícil arregimentar apoios nesse ambiente do medo onde ninguém quer estar contrário ao Poder central. Você precisa estar muito bem conectado aos anseios da sociedade. Tem que haver preocupação com o que a população está querendo. Você tem que falar com a voz do povo, porque se for com a sua voz, você vai se perder. E, às vezes, a população mesmo avaliando bem um governante, está contra alguma ação equivocada do governo. A oposição nossa não é uma oposição contra Eduardo. Não é contra as pessoas. Isso é o que tem nos dado uma boa avaliação de quem acompanha o trabalho da nossa pequena bancada.

JC – O senhor sente retaliações em função de sua atuação?

DANIEL – Pressão existe. Existe uma dificuldade de sobrevivência política para quem está na oposição em obter apoios. Ninguém quer declarar apoio a alguém que tem uma postura crítica em relação ao governo porque corre o risco de ser perseguido. Mas como nunca montei estratégias eleitorais com o formato tradicional, isso me dá liberdade de ter esse enfrentamento. A possibilidade de eles nos atingirem termina sendo amenizada pela maneira como a gente faz política. Na última eleição de estadual, me elegi sem ter o apoio de um prefeito, vereador ou ex-prefeito. A gente não teve apoio formal das lideranças. O apoio foi espontâneo da sociedade. Fica mais difícil você ser perseguido quando o próprio governo não identifica onde estão seus eleitores ou os seus votos. A perseguição termina ocorrendo como na campanha de 2012. A gente viu, com calúnia, com difamação. Esse tipo de situação termina ocorrendo mais no período eleitoral. Fora dele fica mais discreta. Claro que hoje a gente sente que é muito difícil adquirir apoio. Hoje, ainda não sei que eleição vou disputar no ano que vem, mas tenho desejo de disputar o mandato de deputado federal, e sei que não vou contar com apoios formais. Sei que vou para uma eleição sem o apoio de prefeitos, vereadores, pela minha postura crítica. Qualquer prefeito que declare apoio a uma candidatura minha a deputado federal, provavelmente terá retaliações.

JC – Na última pesquisa de intenção de votos, o senhor apresentou um percentual de 11%, bem localizado no Recife. Esse percentual pode ser relacionado diretamente a pessoas que se opõem ao governo?

DANIEL – Não necessariamente são pessoas que se opõem ao governo, mas a algumas práticas da política. E identificam no meu mandato uma contestação desse sistema. Você tem uma parcela da população que não concorda com a campanha feita no formato atual. No interior, fecha-se com as grandes lideranças e a população praticamente não é ouvida. Você tem o apoio de um prefeito de um lado e da maior força da oposição, do outro. E o povo parece que se divide em dois, não há pensamento crítico sobre o assunto. Nos grandes centros a gente vê como é feita a política urbana. E como ela foi feita excessivamente no ano passado com a distribuição de favores individuais, empregos. Ficam tentando controlar as lideranças dentro dos bairros para controlar o voto. E correndo por fora você cria identificação em quem quer mudança. Há espaço para isso.

JC – O PSDB, apesar da sua atuação à frente da bancada, está flertando com o PSB com vistas a eleição estadual. Que caminho se desenha para o partido no próximo ano?

DANIEL – É importante que seja feita justiça à posição do PSDB nesses últimos quatro anos em Pernambuco. Desde o primeiro dia desse governo que foram feitos diversos anúncios através da imprensa de cargos para o partido. Que fulano iria ser secretário, que fulano iria ser diretor de não sei o quê. E o PSDB, mesmo mantendo uma relação amigável em alguns municípios ou até entre o presidente do partido, Sérgio Guerra, e o presidente do PSB, nunca se pautou pela troca dos cargos. Talvez seja dos grandes partidos do Estado o único que não fez essa troca com o governo e que não participou dessa forma. Manteve uma independência que bate com seu discurso. É muito fácil falar em nova política, em não fazer acordos nos formatos tradicionais e fazer os acordos em formatos tradicionais e usar da velha política para se eleger. O PSDB está mostrando que é possível ter um posicionamento crítico, manter boa relação com o governo, apoiar o governo quando o governo está certo, mas sem pedir nada em troca. Essa postura crítica, às vezes, confunde até o próprio governo, alguns adversários porque eles não conseguem enxergar a política com essa independência. Estamos mostrando em Pernambuco que é possível. Na última eleição poucos apostavam que o PSDB teria candidato próprio no Recife e que faria um acordo com o governo e o PSDB não fez, teve candidato. Hoje, o PSDB está num momento que, com muita calma, vai decidir qual será o seu caminho. Pode ter candidato próprio, pode fazer uma composição, vai conversar com os demais partidos. Mas isso vai ser feito com as bases que a gente defende para manter a nossa coerência. Isso não vai ser feito com troca de cargos. Se a gente critica isso nacional e localmente, como é que a gente pode usar dessa prática e desse expediente? Vai ter muita gente com dificuldades, no ano que vem, de se explicar. Tanto no cenário estadual quanto no nacional estamos vendo partidos que participaram do governo durante anos com cargos, com todo “toma lá, dá cá” para política tradicional e, agora, fazem o discurso independência da oposição. Estamos tranquilos. Tudo o que foi dito em relação a gente não aconteceu. Quem fez foram os outros.

JC – Como formar um palanque forte para Aécio em Pernambuco sem palanque próprio? É possível?

DANIEL – Precisamos ter a clareza do cenário nacional, ainda indefinido. Ninguém sabe quais as posições e formatos de palanques que vão se desenhar Brasil afora. Tem uma aliança recente entre Marina (Silva) e Eduardo (Campos), que precisa ser digerida. Não sabemos quais serão as repercussões dessa aliança. No caso de Pernambuco, há uma compreensão que havendo um candidato do Estado – que, no caso, é Eduardo – tem uma tendência a ter uma votação para presidente expressiva no Estado. Ele tem alto índice de aprovação, uma parcela da população que pode votar pela identificação, pelo fato dele ser local. Tudo isso faz a gente ter a compreensão de que, em Pernambuco, o cenário para Aécio é diferente de, por exemplo, em Alagoas ou na Paraíba. Enquanto a meta do PSDB em Alagoas é atingir o primeiro lugar na votação e fazer Dilma (Rousseff) e Eduardo disputarem o segundo turno. Em Pernambuco, temos que ter a compreensão de que será diferente. Quando as pessoas perceberem que o PSDB tem a proposta mais coerente de oposição ao governo Dilma, ele vai crescer. A única diferença que vai ser evidente para todos no Brasil é que Aécio e o PSDB estão dizendo a mesma coisa há 12 anos. Não há uma conjuntura eleitoral que está levando Aécio a fazer um discurso para atender o eleitor. O PSDB teve na última eleição quase 1 milhão de votos em Pernambuco, tem a segunda maior bancada na Assembleia, dois deputados federais. A própria estrutura do PSDB local já permite Aécio ter uma campanha competitiva.

JC – O senhor vai disputar o governo do Estado?

DANIEL – Política para mim não é emprego, não é questão pessoal. Não tenho nenhum apego a isso, posso deixar de ser político amanhã. Tenho vontade da disputa de deputado federal porque posso dar uma contribuição em Brasília, na renovação de como a política é feita. Posso contribuir, inclusive, dentro do PSDB. Talvez por ter vindo agora, recentemente, de outro partido, por ser de uma nova geração, posso contribuir nesse processo de renovação que já é muito claro com a liderança de Aécio. A disposição de disputar um mandato federal ou de governador ela se dá muito mais pela questão da conjuntura nacional, da local, da maneira como o PSDB e outros partidos podem ver essa candidatura. Ninguém pode querer ser candidato a governador porque quer ser. Tem que representar uma parcela da sociedade, uma visão de Estado. Vamos analisar a conjuntura a partir de abril. Minha vontade é de ser deputado federal, mas a conjuntura nacional, interna do PSDB e dos partidos que compõem a oposição nacional podem nos levar a uma candidatura majoritária. O que nós não vamos fazer é nenhum tipo de alinhamento automático, deixar de discutir com independência o futuro de Pernambuco. A gente sabe que o PSDB tem um peso forte no processo de 2014. Seja na disputa, seja apoiando. A decisão que o PSDB tomar vai influenciar diretamente no resultado das próximas eleições.

JC – A corrida sucessória no Estado está bem acelerada. O PSDB pode esperar até abril para começar esse debate?

DANIEL – O tempo correto é abril. Não vou criticar outros partidos, mas estou exercendo um mandato de deputado estadual e tenho obrigações na Assembleia, sou líder da oposição. Estamos fazendo agora a discussão do orçamento do Estado. Não acho correto que você comece a fazer, um ano antes, campanha desenfreada e a pensar só na questão eleitoral. Estamos vivendo parece que faltam três meses para eleição, quando, na verdade, falta um ano e cada um deveria estar cuidando de seus mandatos.

JC – Se o PSDB optar por apoiar um candidato de Eduardo ao governo, qual será sua posição?

DANIEL – Na Assembleia, independente do caminho que o PSDB venha a tomar, não mudará. Não tenho condições de desrespeitar o meu eleitor e começar a dizer que o sistema de saúde de Pernambuco está funcionando bem. Não vou mudar os fatos. Se fizer o entendimento de uma aliança, ela será conversada, fará parte de uma construção de uma próxima eleição. Esse mandato na Assembleia vou exercer até o final com independência.

JC – Como avaliou a aliança PSB-Rede?

DANIEL – Temos que respeitar o caminho de cada um, tenho todo respeito pela decisão que foi tomada por Marina. Mas que eles foram diferentes durante a vida toda nas opiniões e na maneira de fazer política. Qualquer um que observe Marina e Eduardo vai ver que eles sempre foram completamente diferentes em quase tudo. Se daqui para frente vai mudar Eduardo, vai mudar Marina, mudarão os dois, só o tempo dirá. 

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