A volta dos três mosqueteiros - Carlos Chagas

Antônio Assis
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Desalinhados com a base e com o próprio governo existem alguns  senadores  do PMDB, PDT e até do PT, mas três deles mantém permanente postura crítica que faz supor nem tudo estar perdido no Senado.  Só não recebem o rótulo de três mosqueteiros porque na verdade são quatro, ainda que esta semana sobressaíssem Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos e Cristóvam Buarque. Pedro Simon ficou recolhido, certamente junto aos Franciscanos, aos quais pertence.

Foi significativa a presença dos três primeiros referidos no plenário, terça-feira no fim da  tarde, em especial porque sabendo que ocupariam a tribuna, escafederam-se os governistas.  Perceberam  a inocuidade de seus argumentos diante de críticas contundentes previstas anteriormente. Já os oposicionistas, talvez por inveja,  também não apareceram. 

Perderam todos, oposicionistas e governistas,  lucrando apenas quantos puderam assistir a sessão pela TV Senado.  Aliás, a primeira farpa acionada pelos três mosqueteiros referiu-se à esdrúxula decisão da mesa da casa,  de só alta madrugada autorizar a  apresentação do vídeo-tape das sessões vespertinas. Certamente  para o menor número possível de telespectadores poderem assistir. Até a semana passada essa retransmissão acontecia às 20.30, com alto índice de audiência.

Mas foram além as análises de Requião, o primeiro a discursar. Ele anunciou o despreparo do governo Dilma, que continua apoiando, em enfrentar a crise atual.  Falou as ameaças que assolam a administração federal, começando pela política cambial: de nada adiantam nossas  reservas de 350 bilhões de dólares, tendo em vista a diminuição das exportações brasileiras, tanto de manufaturados quanto de produtos primários. Para atrair investimentos, estamos estimulado a especulação. Países da Europa, assim como Estados Unidos e Japão nos impõem armadilhas, enquanto festejamos a queda da inflação aumenta nosso déficit comercial e  crescem  os lucros das multinacionais, bem como suas remessas de lucros.

Somos, continuou Requião, um David sem funda diante de Golias, e logo  ficaremos sem fundos. A América do Sul precisaria unir-se para agir em conjunto e enfrentar o declínio de sua indústria.  Sons e murmúrios ouvidos na Esplanada dos Ministérios  de nada adiantam. O governo entrega-se a uma falsa euforia e a resposta do Senado é o silêncio, ou seja, a omissão. Pouco adiantou a popularidade da presidente Dilma ter subido 5 pontos quanto tinha caído 26.

O ex-governador do Paraná lembrou a história do menino que foi avisar aos pais que a horta da família havia sido devastada, não sobrando um pé de alface ou um tomateiro, mas no fim mostrou-se otimista: “ganhamos um cabrito…”

Jarbas Vasconcelos foi o orador seguinte, denunciando que a agenda positiva anunciada pelo presidente do Senado,  era uma simples lorota, coisa para enganar, constituindo-se em simples ajustes, jamais mudanças. Disse  haver apresentado em 2007 proposta de emenda constitucional  para a extinção das coligações partidárias nas eleições proporcionais, responsável por eleger deputados  com menos votos do que outros, derrotados. Vota-se em João e elege-se Manoel. Renan Calheiros e antes, José Sarney, engavetaram  a sugestão, que agora renasce como de iniciativa deles. Sentiu-se sabotado, pois a proposta mais antiga deveria ter tido precedência.  Mesmo assim, nada entrou na ordem do dia,  demonstrando ser  a agenda positiva uma farsa, porque interesses escusos movem boa parte da base do governo. Não querem, por exemplo, acabar com os partidos de aluguel. De nada adianta votarem o orçamento impositivo se não acabarem com as coligações que  permitem a venda de emendas.  As verdadeiras reformas não saem do papel, ficam no bla-bla-bla, enganando o povo.   Outra enganação será acabar com o foro privilegiado para julgamento de parlamentares, tornando-se muito fácil pressionar juízes de primeira instância do que ministros do Supremo Tribunal Federal. 

Cristóvam Buarque encerrou a tríade ao acentuar que a euforia do governo é mais uma grande ameaça. Confirmou que a redução da inflação configura retração na economia interna, dizendo que o país necessita de mudança de rumo, não de simples ajustes. Criticou a oposição, que não apresenta propostas alternativas, e a presidente Dilma, que prefere elogios. Acusou o governo e o Congresso de estarem enganando o povo, usando as manifestações de protesto para não fazer as reformas necessárias, retirando o poder do povo.

O ex-governador de Brasília denunciou que a sugestão de se reduzir o tempo das campanhas eleitorais será favorecer os que já exercem mandatos. Os líderes dos partidos desejam tornar-se vitalícios, não entendem o que se passa nas ruas. Verberou os gastos dos governos Lula e Dilma em publicidade, já que nem 10% do total de 3,5 bilhões foram investidos na criação de creches: em vez das 1.700 prometidas pela presidente da República, apenas 50 foram construídas. Também se  manifestou contra a mudança  nos horários de retransmissão das sessões do Senado, sugerindo que a mesa estimula os discursos-secretos, para que o povo não saiba o que está sendo denunciado.

O singular nesses três pronunciamentos é que foram ouvidos pelos próprios oradores e mais dois  colegas. Nos  telejornais daquela noite, nada. Como nos jornais de ontem também. De qualquer forma, os três  mosqueteiros continuam peleando e anunciam para ainda esta semana a palavra do quarto, Pedro Simon. 

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