Vendem-se ativos

Antônio Assis
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Bruno Rosa
O globo

Com endividamento elevado e um plano de investimento robusto pela frente, três das maiores empresas brasileiras de infraestrutura — Petrobras, Vale e Oi — estão seguindo a mesma receita: venda de ativos. Afetadas pela desaceleração global e pela desvalorização do real, cada uma à sua maneira, elas vêm apertando os cintos para aumentar receitas enquanto veem seu valor de mercado despencar. Este ano, as três gigantes já perderam R$ 100 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Nas próximas semanas, quando divulgam resultados do segundo trimestre, as companhias seguem no radar dos investidores. A previsão é de quedas nos lucros.

A lista de ativos vendidos — para fazer caixa e focar no prioritário — é extensa. Nos últimos meses, a Petrobras se desfez de metade de seu portfólio na África, além de campos no Golfo do México e no Brasil. Tenta ainda vender ativos na Argentina e no Japão. A Vale desistiu de um projeto na Argentina e passou à frente minas na Colômbia, enquanto prepara a venda de sua participação em uma produtora de bauxita e busca sócios para sua empresa de logística. A Oi já passou o direito de uso de mais de seis mil torres pelo país este ano e acaba de vender sua rede de cabos submarinos. Juntas, as empresas arrecadaram até agora pelo menos R$ 11 bilhões.

— Há um problema generalizado de caixa por causa de uma menor demanda por commodities e serviços. Muitas empresas no Brasil passam por esse momento. É reflexo da crise global e do baixo crescimento do país. A saída é vender ativos que não geram valor e fazer caixa. A dúvida é saber se as vendas estão sendo feitas pelo preço ideal — diz Istvan Kasznar, economista da Ebape da Fundação Getulio Vargas.

Segundo Luis Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura, o desempenho das empresas está diretamente ligado à atividade econômica:

— É um momento frágil, pois elas têm de preservar caixa e fazer investimentos cruciais para sua sobrevivência.

As empresas vêm reduzindo custos — só a Petrobras tem plano de cortar R$ 4 bilhões em 2013. Alexandre Espírito Santo, professor de economia do Ibmec-RJ, lembra que as perspectivas são desafiadoras:

— A queda no preço do minério de ferro afeta a Vale. A Petrobras sofre com as paradas programadas das plataformas e não consegue repassar ao preço da gasolina no Brasil os valores que paga no exterior. Por isso, para evitar prejuízo no trimestre, mudou sua contabilidade, permitindo também o reajuste dos ativos em dólar. A Oi passa por reestruturação para reduzir sua dívida e investir. Como consequência, as ações estão muito baratas na Bolsa.

Grau de investimento sob risco

Apesar de os ajustes estarem a pleno vapor, as vendas dos ativos não devem garantir ganhos a curto prazo. Na Petrobras, que soma reforço de pelo menos US$ 2 bilhões em ativos neste ano, a expectativa é de queda de quase 40% no lucro líquido do segundo trimestre em relação ao primeiro. Segundo a média dos analistas, o ganho deve ficar entre R$ 4,7 bilhões e R$ 4,9 bilhões. Ao mesmo tempo, a empresa vai investir R$ 97,7 bilhões em 2013 e vai participar do leilão da área de Libra, no pré-sal da bacia de Santos, em outubro. Para não ver o endividamento aumentar, mudou sua política de dividendos, e economizará R$ 3,5 bilhões. Procurada, a Petrobras não se pronunciou.

— Não esperamos receita forte na Petrobras, que sofre com o custo das importações (com a alta do dólar) e a queda na produção. Há ainda o temor de que a estatal perca seu grau de investimento com o aumento da dívida em dólar — diz Gabriel Ribeiro, analista da UM Investimentos.

Mudanças no pagamento de dividendos e manutenção do nível de investimento são desafios para a Oi. Com a venda de ativos, arrecadou R$ 1 bilhão, e devem entrar outros R$ 2,5 bilhões no caixa. A empresa cancelou o pagamento de R$ 1 bilhão em dividendos que faria em agosto, já que a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa ficou acima do triplo em junho. Para o segundo trimestre, Alex Pardellas, analista da CGD Securities, espera lucro de R$ 253 milhões — queda de 3,4% frente ao primeiro. Na média de mercado, espera-se R$ 294 milhões, uma alta de 12%. Procurada, a Oi não se pronunciou.

— A empresa tem um programa elevado de investimentos (R$ 6 bi por ano até 2014). Mas só com o caixa operacional não será suficiente. A solução é vender ativos, o que ajuda a curto prazo, mas não resolve o endividamento. É essencial corte de custos — diz Pardellas.

Diante da queda dos preços do minério de ferro — a expectativa é que a commodity feche o ano a US$ 119 por tonelada, contra os cerca de US$ 130 atualmente — a Vale também corta custos. O caso mais emblemático foi a suspensão do projeto de potássio na Argentina, após o encarecimento do empreendimento. Com a venda de ativos, que começou ano passado, já arrecadou US$ 1,471 bilhão. Em nota, a Vale ressaltou que, conforme o presidente da companhia, Murilo Ferreira, já dissera, o objetivo agora é investir “somente em ativos de classe mundial, capazes de criar valor ao longo dos ciclos”.

Na próxima quarta-feira, o Conselho de Administração da Vale definirá como será a venda de parte das ações de sua empresa de logística. A mineradora quer ainda se desfazer dos 40% que tem na MRN, a maior produtora de bauxita do Brasil.

— A Vale quer gerar caixa e aumentar o seu retorno. Por isso, vem buscando o melhor momento para vender seus ativos, já que o superciclo do minério acabou. A saída, dessa forma, é focar no minério de ferro, onde consegue maior rentabilidade — diz Luiz Francisco Caetano, analista da corretora Planner.

É, dessa forma, que a empresa — diretamente afetada pela desaceleração do crescimento chinês — aposta as fichas na expansão de Carajás, que terá investimentos de US$ 19,5 bilhões. Até maio, já foram gastos US$ 2,736 bilhões. Mas, o mercado espera um segundo trimestre fraco, com lucro de R$ 5,3 bilhões, queda de cerca de 15%, na média das projeções. Mas Caetano acredita que, com o menor preço de ferro (-15%), cobre (-3,6%) e níquel (-8,7%), os ganhos fiquem em R$ 2 bilhões — um tombo de 67,7%:

— A desvalorização do real, de 10%, aumentará custos financeiros da empresa. A Vale tem sua dívida praticamente toda em moeda estrangeira.

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