247 – A roda da política está girando em velocidade – e pode parar em 2014 no mesmo lugar que estacionou em 2002, quando o ex-presidente Lula enfrentou o ex-governador José Serra na disputa pela Presidência da República. Cada um a sua maneira, eles estão obtendo dividendos da crise política aberta pelas manifestações de massa no País.
De acordo com o Instituto Datafolha, Lula é o político com melhores condições, segundo 35% do público, para lidar com a crise – e ele também venceria a eleição, se fosse hoje, em primeiro turno, com 46% dos votos.
No campo dos tucanos, José Serra emergiu com força dos acontecimentos. Depois de longa muda, ele já está ampliando o volume de suas intervenções em público – e saboreou uma pesquisa do Instituto Paraná na qual aparece como o tucano em melhores condições de chegar a um segundo turno eleitoral, com mais de 21,7% de intenções de votos, distante menos de oito percentuais da presidente Dilma Rousseff e com seis pontos a mais que o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. Serra, efetivamente, voltou ao páreo.
Não se sabe ainda como os dois partidos irão resolver os dilemas em torno de suas candidaturas. Antes de ser preterido por Serra, na escolha do candidato tucano em 2010, Aécio pediu prévias partidárias. Com o controle da máquina na mão, então como prefeito de São Paulo e tendo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como aliado, Serra não aceitou. Agora, é Aécio quem controla o partido, enquanto Serra teria todo interesse em participar de prévias, caminho que poderia lhe ser mais efetivo para conseguir a legenda tucano para 2014. A posição de cada um irá aparecer na sequência da sucessão.
No PT, o caso é ainda mais complexo. Por direito e, aparentemente, vontade, Dilma quer se reeleger. Mas o chamado movimento "volta, Lula", existente dentro do partido e em largas parcelas do empresariado, ganha fôlego com a performance do ex-presidente no cenário de crise. Ele foi o político que menos perdeu intenções de voto, com a crise, no Datafolha, caindo de 55% para 46%.
A questão é mais intrincada, para os petistas, porque se trataria, no caso do 'volta, Lula', de interromper, na prática, o governo Dilma. A presidente, que procura retomar a iniciativa política por meio da sugestão do plebiscito, pode se recuperar – o marqueteiro João Santana, por exemplo, diz que passado o exercício de "catarse coletiva", Dilma ainda assim vencerá em primeiro turno. Pode ser. Nesse caso, Lula, que vai negando com veemência querer voltar, verá mesmo a sucessão passar na janela.