Marcílio albuquerque
Folha-PE
Uma recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), expedida na tarde desta quarta-feira (23), prevê a interdição de alguns trechos das praias do Recife, impedindo o acesso de banhistas. A indicação foi motivada por conta da morte da turista paulista Bruna Silva Gobbi, 18 anos, provocada por um ataque de tubarão, ocorrido na última segunda-feira. O documento do órgão é direcionado ao Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e ao próprio Governo do Estado, que, assim como, setor de Turismo, enxergam a medida como desnecessária.
Peu Ricardo/Folha de Pernambuco
O documento ressalta a necessidade da identificação das áreas que precisam da proibição e os respectivos períodos do ano, destacando que o Cemit já estaria de posse de todos os dados necessários. “Já existem cinco decretos restringindo os esportes aquáticos, incluindo o surfe, este seria mais um, sendo o mais importante”, afirma o promotor de Justiça de Meio Ambiente da Capital, Ricardo Coelho, responsável pela ação. Segundo ele, apesar do trabalho informativo e de advertência, a inexistência de uma legislação específica impede que os bombeiros consigam combater a entrada das pessoas na área de risco.
Apesar de ainda não ter sido comunicada oficialmente, a Secretaria de Defesa Social (SDS) descartou fortemente a possibilidade de o pleito seguir adiante. “Isto fere o direito constitucional de ir e vir, que deve ser garantido a cada cidadão. É absolutamente descabido, em virtude do trabalho que já é desenvolvido em todo o nosso litoral”, disse o gestor da pasta, Wilson Damázio. Para ele, as medidas preventivas e os investimentos direcionados para a segurança da orla, tornam dispensável esta iniciativa. “Temos as praias mais bem sinalizadas do País e um efetivo altamente preparado. Os ataques podem ocorrer em qualquer parte do mundo”, garantiu Damázio. No entanto, uma das medidas que reduz os ataques está desativada. O barco Sinuelo, que captura e monitora os tubarões, gerido pelo Estado, está inoperante por falta de verba.
No campo do turismo e hospitalidade, a recomendação foi considerada um lamentável equívoco. Para Eduardo Cavalcanti, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH/PE), um maior investimento em campanhas de conscientização teria resultados muito mais eficazes. “O maior atrativo do nosso Estado é o mar, as pessoas se sentem atraídas pelas nossas águas mornas. Seria como proibir as pessoas de andar de moto, para evitar que os inúmeros acidentes continuem a ocorrer. Não tem a menor lógica”, concluiu.
A Associação Brasileira de Agências de Viagens em Pernambuco (ABAV/PE) condena a iniciativa do MPPE e não descarta a possibilidade de contestar judicialmente a medida. Quando questionado sobre qual seria o impacto mais negativo para o Estado - os ataques com vítimas fatais ou a medida restritiva - o vice-presidente do órgão foi taxativo em destacar a segunda opção. “As pessoas poderiam deixar de frequentar o nosso Estado, interpretando que todas as praias estariam proibidas. Tal estigma poderia levar anos para ser vencido”, disse José Jorge Sales.
A turista paulista Bruna Silva Gobbi perdeu a perna esquerda e, doze após o ataque, faleceu no Hospital da Restauração. Apesar do clima de medo que se instaurou nas águas pernambucanas, um considerável número de banhistas pôde ser visto ontem, na mesma área onde o acidente ocorreu. “É dever do Estado adotar ações que visem à proteção e defesa da saúde, integridade física e bem estar da população”, afirmou o promotor Ricardo Coelho, enfatizando a importância da restrição das áreas de banho.