Carlos Alberto Fernandes*
O Governador Eduardo Campos está pagando um preço alto por sua estratégia de antecipação aos fatos políticos. Na esfera federal, suas análises críticas lúcidas, desagradam a irascível Presidente e por extensão ao governo. Na esfera estadual, sua linha cautelosa de indefinição política, não é simpática aos interessados em sua cadeira. Na esfera municipal, infelizmente, apesar da euforia inicial, seus desejos não estão sendo transformados em objetivos.
Com relação a redução nas tarifas de ônibus anunciada unilateralmente, sem consulta aos empresários, parece ser a raiz de todos os problemas. O início de tudo. Dez centavos é pouco, mas pelas consequências, parece ser muito. O pretexto de tudo. A razão inicial de todo esse furdunço.
Historicamente, os empresários dos transportes sempre mantiveram uma relação estreita com os agentes dos governos. Não esquecer que os dirigentes responsáveis pela mobilidade urbana do Recife, apesar de suas origens políticas, tem ou tiveram relações formais de trabalho com grupos da área dos transportes urbanos. Transparência complicada.
A paralisação de ônibus que está ocorrendo no Recife ratifica esta verdade: a greve está tomando uma dimensão sem precedentes. Os empresários parecem imobilizados. Alguns estão falando, mas não estão dizendo nada. Fingem conversar, mas desconversam. A situação a cada dia se agrava. A população atingida paga caro as consequências. Malditos dez centavos.
O próprio governador admite um conluio entre os empresários e sindicalistas. Os sindicalistas falam uma coisa e fazem outra. Os empresários, não fazem nada. Ninguém leva a sério as decisões da Justiça. Os motoristas e cobradores são utilizados como massa de manobra. A população sofrida, encontra-se revoltada. A sociedade perplexa.
A maioria das Universidades suspenderam suas aulas por conta da greve. O comércio está parado. A indústria em ritmo lento. Os serviços adiados. A chuva, antiga amiga, castiga. O povo aturdido, caminha a pé. Espera o ônibus. Longa espera. A demora intriga. O ônibus não chega.
O Governo brada. Os patrões fazem os ouvidos de moucos. Acredita-se que estão se sentindo traídos pelos espasmos da popularidade política. Ampliam a onda de pessimismo. Gritam silenciosamente. Os sindicalistas roucos se fazem de loucos. A Polícia, ora, é sempre culpada. Malditos dez centavos.
*Economista e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco