Boato de queda de avião mobiliza Pernambuco

Antônio Assis
3 minute read
0
Paulo Emílio e Leonardo Lucena 
PE247 – O que em princípio parecia um acidente aéreo no Litoral de Pernambuco não passou de um boato. Após receber diversas chamadas sobre um avião que teria caído no mar, nas imediações da Praia de Catuama, a 72 quilômetros (km) do Recife, no município de Goiana, Litoral Norte do Estado, o Corpo de Bombeiros realizou uma megaoperação, nesta quarta-feira (24), para checar a informação. Mas, na realidade, tratava-se de um navio transportando, a 6 km da costa, uma peça chamada queimador, que será instalada na plataforma P-62, que está sendo construída pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), no Complexo de Suape, Sul do Grande Recife.


Dois helicópteros, um da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e outro da Secretaria de Defesa Social (SDS), também sobrevoaram o local por cerca de uma hora, mas não encontraram sinal de destroços ou a aeronave. Além disso, também foram deslocados para Catuama duas ambulâncias, dois carros de salvamento, duas caminhonetes, um bote e 20 homens da Polícia Militar.

Segundo o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Francisco Cantareli, algumas pessoas informaram que viram um objeto boiando na água. Ao Jornal do Commercio, Cantareli disse que um pescador, que estava em alto mar, afirmou que viu apenas um navio e um objeto semelhante a uma plataforma. Por sua vez, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), em Brasília (DF), informou que não registrou incidente algum e nenhum pedido de socorro no Grande Recife.

Os boatos também provocaram mobilização na Imprensa local. Portais como o do JC, do Diário de Pernambuco e da Folha de Pernambuco publicaram matérias dando conta de que um avião poderia ter caído na Praia de Catuama. A notícia também foi publicada em veículos fora do Estado, como Portal Terra, TV UOL e PB Agora.

De acordo com a editora-chefe da Folha de Pernambuco, Patrícia Raposo, assim que as primeiras informações começaram a chegar, repórteres foram acionados para checar a veracidade do fato. “Foi quando confirmamos que o Corpo de Bombeiros havia deslocado um efetivo relativamente grande para o local. A partir daí a imprensa começou a se mobilizar e as notícias começaram a sair. Ao chegar ao local foi que se constatou que tudo não passou de uma espécie de delírio coletivo, digamos assim”, disse.

Segundo ela, o imediatismo provocado pelo jornalismo online tem agravado situações do gênero. “Existe uma corrida atrás da informação. É muito difícil  ter como segurar uma matéria até ela ser devidamente checada enquanto todos os outros veículos estão publicando a notícia. Se isso já existia no impresso, nos tempos da internet isso ficou ainda mais evidente e difícil de ter algum controle”, observa.

Não é a primeira vez que um boato alcança grande repercussão em Pernambuco. O maior deles foi o do rompimento da barragem de tapacurá, no Grande Recife. O caso, ocorrido no dia 21 de julho de 1975, surgiu quando uma série de informações davam conta de que a barragem de Tapacurá teria rompido, ameaçando o Recife e cidades vizinhas com uma inundação sem precedentes, levando o pânico ás ruas da capital.

Várias pessoas saíram pelas ruas em despero, veículos trafegaram pela contramão, pedestres desesperados pedindo caronas, escolas vazias, ônibus invadidos, gente pulando da janela, subindo escadas de edifícios para ficarem no topo dos prédios... Tudo em decorrência do desespero causado pelo boato.

Mas o pânico tinha uma explicação. No mesmo ano, em 1975, entre os dias 17 e 18 de julho, uma enchente considerada uma das maiores catástrofes registradas em Pernambuco no século XXI, deixou cerca de 80% da população do Recife com problemas causados pela inundação, além de atingir outras 25 cidades da bacia do Capibaribe. O saldo foi pouco mais de 100 pessoas mortas e milhares de cidadãos desabrigados, além de pontes desabadas e ferrovias destruídas.