Bruna Serra
JC Online
A diversidade de gerações e classes sociais presentes nas manifestações que tomaram conta do Brasil trouxe consigo um emaranhado de incertezas e questionamentos sobre a representatividade dos partidos políticos no País. Milhares de brasileiros, favoráveis e contrários à participação das legendas nos atos públicos dos últimos 15 dias, discutem a necessidade de tê-los como intermediários de suas indignações.
Movimentos extremistas, como os “skinheads” de Brasília e São Paulo, estão expulsando com violência partidos, entidades de classe e sindicatos que desejam participar dos protestos. Mas a sobrevivência deste movimento é possível sem diálogo com a classe política? Como traduzir a pauta de reivindicações dos manifestantes em ações concretas sem um debate institucional?
Ativista em direitos humanos e professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Joviniano Neto pondera que, apesar da crise de representatividade amargada pelo Poder Legislativo no Brasil, um dos caminhos possíveis para que essa mobilização nacional não se dilua – como aconteceu nos Estados Unidos, com o Ocuppy Wall Street – é que as negociações cheguem ao Congresso Nacional.
“Quando se discute a questão da corrupção, os partidos não representam tão fielmente o eleitorado. Esse tipo de repulsa a canais que são capazes de traduzir as indignações é preocupante. Na minha avaliação, a força desse movimento, exaltada na aversão à participação de partidos, é, ao mesmo tempo, a sua fraqueza”, provocou o professor.
Joviniano Neto ressalta que muitos jovens não conhecem de perto a formação partidária, uma vez que o brasileiro não tem o costume de se filiar a partidos políticos, ficando distante de suas nuances e deformidades do processo.
“Participar é fundamental para conhecer, contestar, reformular. Claro que é essencial acabar com a corrupção e rever como os políticos estão desempenhando suas funções. Mas também é importante que o brasileiro passe a enxergar o processo político de forma coletiva e não individual, com decisões que vão beneficiar setores, e não a sociedade como um todo”, destacou.
Professor da Universidade Federal de Alagoas e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco, Ranulfo Paranhos acredita que a aversão à presença de políticos nas manifestações é momentânea, e que deve ser superada à medida que a classe política comece a responder as demandas sociais, especialmente com combate à corrupção.
Paranhos lembra que os modelos democráticos não existem sem partidos políticos.
“Nessa agenda, eles são o foco. Os políticos são o alvo. Mas a pauta vai chegar à esfera institucional, como chegou o Movimento Passe Livre”, destacou o cientista.
Paranhos ressalta que é preciso que os políticos saibam se colocar. Em crítica ácida ao presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), ele avaliou como um erro a colocação do peemedebista para intermediar a pauta do movimento. “Ele está no centro do embate. Não há espaço para capitalizar em cima das mobilizações. Isso precisa ser contido para que os manifestantes se sintam à vontade para buscar intermediários”, explicou Paranhos.
“Se observarmos todas as manifestações, elas não pedem ruptura. Não é revolucionário. É para dizer que as instituições são falhas”, completou o cientista.