Thulio Falcão
Folha-PE
O Hino Nacional brasileiro foi adquirido pelo Poder Executivo com o decreto nº 4.559 de 21 de agosto de 1922 e somente com a lei nº 5700, de 1971, é que ele se tornou oficial. Mesmo com a obrigatoriedade, devido a uma lei federal de 2009, de cantá-lo em escolas públicas e privadas, muitos não sabem de cor. Mas nas últimas semanas nunca se ouviu ou escreveu tanto o patriotismo da nação por conta dos protestos nas capitais brasileiras. O bordão “O Brasil alterou seu status de ‘deitado eternamente em berço esplendido’ para ‘verás que um filho teu não foge a luta’” circula nas redes sociais e, agora, o hino resume-se na hashtag #vemprarua.
Em uma época que a sociedade brasileira vive a geração do "eu conectado", a imposição de hashtags com palavras de ordem representa a fragilidade do estado. "Os jovens estão conectados em outras coisas e não aguentam mais o serviço público de baixa qualidade, da corrupção, das cidades em que estão vivendo", ressalta o diretor do Porto Marinho, Claudio Marinho. Para ele, o fenômeno "escapou do controle dos métodos tradicionais, da gestão do governo, da polícia e do próprio movimento". O sociólogo Breno Fontes complementa que esses usuários enxergam, na democracia, vários momentos de insatisfação. "Para essas pessoas, o modelo de democracia ocidental não está dando mais conta da sociedade".
Laila Santana/Folha de Pernambuco
Se o movimento Caras-Pintadas, em 1992, que lutava pelo impeachment de Collor, foi divulgado com o boca a boca, hoje as redes sociais fazem todo o trabalho. O que mudou de 21 anos para cá? A internet. Segundo Marinho, ela é "o fator predominante dessa transformação de comportamento das pessoas".
Mas, independente da época - do rebelde sem causa ou ativista de sofá -, o cidadão encontrou nas redes sociais uma forma mais ágil de demonstrar a descrença na qualidade pública. "São ferramentas que facilitam levar o ato para as ruas e fazer pressão popular no poder público", explica o membro da Frente de Luta pelo Transporte Público, Pedro Josephi.
Na página do evento, é possível perceber vários usuários criando enquetes, desde reivindicações a roupa a ser utilizada no dia da mobilização. “A maioria das enquetes publicadas já eram pautas de nossas reuniões, mas elas são como um medidor de assuntos relevantes e de quem busca boicotar a passeata”, comenta o ativista que relata que o ciberativismo do ato é democrático. “Não tem um líder, e sim opiniões que ajudam a construir os ideais”.
E se para uns as manifestações são um atestado de que nenhum governo representa a sociedade, Claudio Marinho defende que esta não é a realidade. "Eles não buscam por formas de substituição, mas sim de mostrar indignação".