247 – Aos 43 anos, o senador que tem desafiado a aliança nacional PT-PMDB no Rio de Janeiro culpa os partidos políticos pelos protestos atuais. “Há dez anos no poder, o PT e outras siglas de esquerda experimentam um afastamento das demandas da sociedade, principalmente desse contato com a juventude", afirmou.
Provável candidato ao governo do Rio em 2014, Lindbergh Farias foi ex-líder dos caras-pintadas que em 1992 ajudou a pressionar pelo impeachment do então presidente Fernando Collor.
Leia trechos da entrevista concedida à Folha:
Diferença entre as manifestações atuais e as de 1992
Vamos começar pela forma de convocar. A gente gastava 15 dias para organizar uma passeata. A UNE [União Nacional dos Estudantes] tinha que chamar uma reunião dos DCEs [Diretórios Centrais de Estudantes] e grêmios. Organizava visitas a escolas, passagem em sala de aula... Agora, não. Há as redes sociais. Isso é como se o movimento dissesse o seguinte: Eu não preciso de direção para marcar, para convocar'. É uma coisa mais horizontal. Acho que isso é positivo.
Por que agora?
Nos últimos dez anos, houve muitos avanços no Brasil. Quarenta milhões ascenderam à classe média. Mas a vida nas grandes metrópoles está um inferno. Os serviços são muito ruins. Saúde hoje é um problemaço'.
Na minha época, da juventude do movimento do impeachment [do então presidente Collor], era mais de juventude de classe média. Eu queria que não tivesse sido. Queria que tivesse lá a juventude da periferia... Mas foi muito da classe média. Agora, acho que tem duas cores: juventude classe média e juventude de periferia, que é essa nova classe média.
Conselho para o movimento
Se eu pudesse dar um conselho para esse pessoal, eu diria o seguinte: pegar uma bandeira tipo salário de professor. Imagina esse movimento dizendo o seguinte: Tem que melhorar o salário do professor'? Ia emparedar todo e qualquer prefeito, todo e qualquer governador.
Conselho para governantes
Talvez os governantes tivessem que ter se reunido, construído uma saída. Do jeito que foi, na verdade, eles foram empurrados a aceitar aquilo. A condenação à repressão que houve no primeiro dia é uma coisa que todos tinham que ter feito. Acabou dando um grande combustível ao movimento.
Partidos
Partido virou coisa de eleição. Tem gente que tem as suas preferências no período eleitoral. Mas partido deixou de ser instrumento de mobilização das ruas. Até porque os nossos partidos de esquerda chegaram ao poder e estão aí há dez anos. Houve um afastamento, principalmente desse contato com a juventude.
PT
Houve um descolamento nesse momento. A lógica de estar nos governos acaba distanciando de uma pauta mais real da vida das pessoas. Essa classe média que conquistou muita coisa agora quer melhorar a saúde, quer melhorar a sua vida.
O que houve de conquistas nos dez anos de governo Lula e Dilma não basta mais. Estamos encerrando a miséria absoluta no país. Muito bem. 40 milhões entraram na classe média. Muito bem. Qual é a pauta que estão impondo para a gente do PT também? É uma pauta da vida nos grandes centros urbanos, a luta contra a desigualdade, a luta para melhorar a saúde.
Rio
Tem que sentir mais a realidade. Por exemplo, obras da Copa lá no Rio de Janeiro. Metrô de Ipanema para a Barra? Qual é o legado? BRT [Bus Rapid Transit] sai de onde? Sai do aeroporto Galeão e vai para a Barra da Tijuca. O que o povo acha? Estão fazendo obras para os turistas.