Em Olinda, edifícios interditados são habitados, apesar dos riscos

Antônio Assis
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G1 PE

A interdição dos 14 blocos do Conjunto Residencial Eldorado, no Arruda, no dia 30 de maio, reacendeu a discussão acerca da segurança das construções do tipo “caixão” na Região Metropolitana do Recife. Duas semanas antes, no dia 16, moradores do edifício Emílio Santos, em Boa Viagem, também passaram pelo mesmo drama. O problema, contudo, não é exclusivo da capital pernambucana. Quem circula com alguma frequência pelo bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, talvez já tenha se acostumado com a paisagem: prédios que foram interditados pela Defesa Civil municipal constituem uma espécie de cartão postal às inversas.

 "Quando chove, pinga muito. Mas é melhor do que estar na rua"
 Élida Araújo, moradora do
 edifício Rio Grande do Norte

Ao todo, há 58 edifícios assim em Olinda, de acordo com a prefeitura. Dez deles ficam em Jardim Atlântico, dos quais sete foram visitados pela reportagem do G1. Em comum, o fato de serem edificações em alvenaria estrutural, o popular prédio-caixão. Muitos estão completamente abandonados. Outros foram ocupados por pessoas que viram neles uma oportunidade mais digna de moradia.

É o caso do mecânico Edson Carlos, que vive com a mulher e quatro filhos em um apartamento com três quartos no edifício Baronatt, na avenida Regina Lacerda. Ele foi o primeiro a se fixar no local, há mais de dez anos. Antes, morava de aluguel com a mãe em Jardim Brasil, também em Olinda, mas tinha dificuldades para arcar com as despesas mensais. “Vinha muito ladrão aqui, vândalos queriam invadir. Ano passado, traficantes tentaram tomar conta, mas eu não deixei”, conta. O edifício foi interditado pouco tempo depois das quedas do Éricka e do Enseada de Serrambi, em 1999, quando 12 pessoas morreram.

 O mecânico, uma espécie de síndico do prédio, transformou em oficina a área que antes servia de garagem para os antigos moradores. Um apartamento no térreo funciona como depósito de peças e equipamentos. Hoje, pode-se dizer, Edson vive e trabalha no Baronatt, de onde não pretende sair mesmo sabendo dos riscos de desabamento. “Eu sozinho não vou abalar isso aqui. É pedir a Deus que não tenha ninguém caso algo aconteça”, afirma.

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