Em Brasília, índios invadem a Funai e exigem a demarcação de terras. No Congresso, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pede a liberação de emendas, enquanto os aliados se mostram cada vez mais aflitos com a antecipação do processo eleitoral e a escassez de meios para suas próprias reeleições. No mercado financeiro, a Bovespa derrete, enquanto o dólar dispara, alimentando pressões inflacionárias. Nas ruas, manifestantes depredam ônibus, exigindo a redução das tarifas. E se tudo isso não fosse o bastante, uma pesquisa Datafolha mostra a redução da popularidade presidencial.
Como na canção de Caetano Veloso, alguma coisa está fora da ordem. O governo Dilma enfrenta intensa pressão e, pela primeira vez, o Palácio do Planalto terá de travar várias guerras paralelas e simultâneas. Até agora, as dificuldades no campo político, decorrentes do próprio estilo presidencial, vinham sendo amortecidas pelos bons ventos na economia, que garantiam uma popularidade nas alturas e mantinham os aliados sob a órbita segura de Dilma. Nesse novo ambiente, em que se somam a deterioração do clima externo, as tensões sociais internas e a alta do dólar, a fortaleza de Dilma se mostra menos invulnerável.
Ao enxergar uma pequena fissura no castelo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o grito de guerra da oposição, há duas semanas, ao prever que Dilma teria de, rapidamente, “beijar a cruz” – o que deve ser lido como elevar os juros, promover o aperto fiscal e, em síntese, conter o ritmo de atividade econômica, o que contribuiria para tornar sua fortaleza ainda mais vulnerável. Depois disso, mais uma vez, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi alvo de ataques orquestrados dentro e fora do País, em nova tentativa de se obter sua cabeça numa bandeja.
A questão é saber se o Palácio do Planalto irá ou não piscar. Ao que tudo indica, Dilma parece estar convencida de que sua política econômica caminha na direção correta e que, em breve, os números mostrarão uma inflação em queda, com retomada da atividade econômica e contas públicas já em ordem, sem a necessidade de novos pacotes fiscais. Sangue-frio e temperança parecem ser as palavras de ordem para atravessar a primeira turbulência séria do governo Dilma.