PE247 – O senador Armando Monteiro (PTB-PE) criticou o que chamou de “hegemonismo partidário” do PSB, presidido nacionalmente pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Isso porque, de acordo com os bastidores, o gestor lançará um candidato ao Governo Estadual do seu próprio partido. Para o senador, isso significa uma “negação ao espírito de aliança”. “Quero saber até que ponto nessa aliança existem parceiros ou partidos de duas classes. Se existem aqueles que andam no banco da frente e outros que estão condenados a andar no banco de trás".
O parlamentar confessou, na última segunda-feira (3), em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que poderá conduzir sua candidatura a governador do Estado independentemente do posicionamento do PTB em nível nacional – se fecha ou não com o PT da presidente Dilma. Sobre as possibilidade de formar uma coligação incluindo o Partido dos Trabalhadores e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), rumo ao pleito estadual, Monteiro informou que não se tem definições claras a respeito e tudo vai depender da decisão do governador Eduardo Campos, de alçar ou não um voo nacional e de quem indicará para sucedê-lo no Executivo estadual.
Confira os principais trechos da entrevista:
Folha - Quem o PTB tende a apoiar para presidente da República?
Armando Monteiro Neto - O PTB é um partido que vive uma situação curiosa. As bancadas no Congresso estão muito alinhadas com o governo, e a executiva, por conta da força e da liderança do presidente [licenciado] Roberto Jefferson, que tem uma ligação diferente com o governo, não tem esse mesmo alinhamento. Mas muitos atuam no partido para que se busque uma posição convergente.
O PTB com Dilma fecharia uma janela para o senhor na disputa pelo governo de Pernambuco?
Eu não diria isso. Do mesmo modo que o governador tem o grau de liberdade dele para poder decidir seu processo sucessório, eu também tenho um grau de liberdade, na medida em que não sou parte de nenhum entendimento que passe por apoio nacional. Há entendimentos e conversas que o governador manteve com o partido que nem foram intermediados por mim. O governador tem seus canais também.
Então o sr. se sente à vontade para trabalhar sua candidatura a governador independentemente de uma decisão a nível nacional do PTB?
Eu acho que sim. A minha candidatura não está condicionada a esse processo do partido a nível nacional. É claro que um alinhamento seria desejável, mas não é algo que condicione essa posição. O PTB tem uma condição de mobilidade natural. Estamos inseridos num campo em que coerentemente estivemos ligados ao PT e ao PSB. Dialogamos bem com os dois partidos.
O sr. considera sair em uma chapa com o PT e o ministro da Integração Nacional?
Isso não está posto porque ainda não temos definições claras no processo. O governador não assume sua candidatura à Presidência. O PT está no governo dele (Campos), e o PSB está no governo Dilma. E o PTB está no governo dele aqui. Não há ainda algo que indique que essas figuras estarão separadas. Mas vai haver um momento em que ele terá de explicitar as posições. E aí veremos se isso corresponderá a um distanciamento, a um rompimento.
A sua candidatura ao governo independe de um acerto com o governo do Estado?
Eu estou numa aliança cujo condutor natural do processo é o governador. Nós estamos aguardando o encaminhamento desse processo, que poderá se dar de forma a termos um único palanque em Pernambuco ou termos dois palanques. Isso vai depender de uma decisão do governador, se ele é ou não candidato a Presidência. E com relação ao encaminhamento da sucessão [estadual], a partir daí, também da explicitação de critérios políticos que vão orientar isso.
O governador parece querer um candidato do próprio partido.
Fala-se em alguns círculos aqui num certo hegemonismo partidário, ou seja, que o candidato tem que ser do partido dele. Isso é uma condição para o processo? Na essência é uma certa negação do espírito de aliança. É como se houvesse na aliança partidos de duas classes. Eu quero saber até que ponto nessa aliança existem parceiros ou partidos de duas classes. Se existem aqueles que andam no banco da frente e outros que estão condenados a andar no banco de trás.
O sr. considera que a mudança de partido do vice-governador, João Lyra Neto, do PDT para o PSB, é um indicativo de que ele será o candidato da aliança?
Eu acho que um vice-governador tem credenciais para postular o cargo, mas para isso ele nem precisaria mudar de partido. Até que ponto isso foi uma exigência do PSB ou correspondeu a um ato do vice-governador eu não tenho essa resposta. Mas sei que ele já declarou um desconforto dele e do partido. Então posso entender que isso se deu muito mais por motivação pessoal do que por exigência externa.