Mariana Clarissa
Folha-PE
Há 11 anos Valderice Barros, empresária e comerciante do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa) resolveu ajudar os funcionários que trabalhavam nos boxes do local. No início, quis abrir um banco de alimentos chamado “Diga não ao desperdício”, onde as sobras das mercadorias eram recolhidas e doadas para os trabalhadores. Ela conseguiu e tornou a iniciativa tão importante e grandiosa que o Serviço Social do Comércio (Sesc) formou parceria com o projeto e continuou com o trabalho. Mas a empresária ainda não estava satisfeita. Queria ajudar mais, mudar a situação dos empregados. Então foi que a ideia surgiu: alfabetizar os funcionários.
Com ajuda da Associação dos Usuários do Ceasa-Recife (Assucere), uma sala foi disponibilizada para atender cerca de 20 alunos dentro da instituição para que as aulas iniciassem. Dona Valderice, formada em Pedagogia, não exitou em se oferecer para ser a professora e, em 2002, a primeira turma do Projeto Vida Nova Alfabetizada foi aberta. Mais tarde, o sucesso do trabalho chegou. As aulas acontecem em três dias da semana com duas horas de duração. “Os meus alunos trabalham aqui, então os empresários só podiam disponibilizar mais uma hora, além da hora do almoço, para eles conseguirem estudar”, explicou dona Valderice. A escola é gratuita e o material é todo disponibilizado”, ressaltou.
Na turma deste ano, 14 alunos com idades entre 30 e 50 anos estão matriculados, mas as aulas são disponibilizadas para alunos a partir dos 18 anos. “Durante todos esses anos de escola, formamos cerca de 120 pessoas. É muito gratificante ver que esses meninos, que chegaram não sabendo nada ou quase nada, saindo do projeto escrevendo e lendo bem direitinho. A gente vê a força de vontade deles”, relatou Valderice Barros. Força de vontade que Júnio Caetano, 34 anos, teve e pretende continuar tendo. Ele foi aluno do projeto e quando se formou, saindo na 4º série do Ensino Fundamental I, continuou os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e garantiu: “próximo semestre vou continuar os estudos”.
São histórias de coragem e determinação. Narradas, por exemplo, por Sandro Braz, 35 anos, aluno do projeto há dois anos. Ele foi levado pelo patrão para conhecer a professora, onde juntos mostraram a importância e a necessidade de saber ler. “Foi muito bom. Eu realmente não sabia nem ler nem escrever. Aprendi tudo aqui. Falava errado, mas com a ajuda da professora hoje consigo falar correto”, contou. Outra história é a de Eduardo Souza, 48 anos. Trabalhador há 22 anos da Ceasa, não sabia ler o nome do local de trabalho. “Quando conseguir ler, fiquei bastante emocionado. Foi uma conquista mesmo”, disse.
Valderice Barros diz que ensinar é uma das melhores coisas que já fez na vida. “Faço isso por amor. Se todas as pessoas soubessem dar valor à nossa profissão e se dispusesse a ajudar o próximo, muitos projetos como este estariam vivos. Só de chegar aqui esses meninos já são vitoriosos. E tenho orgulho por isso”, expressou. Para se matricular nas aulas, os interessados devem ligar para o número 3252.1140 ou 3252.1185.