Túnel já começa em meio a polêmica

Antônio Assis
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Júnior Aguiar
Folha-PE


Começaram as intervenções para a construção do túnel que irá atender a Zona Oeste do Recife. E junto com elas, os conflitos. Ontem, durante o primeiro dia de ações que antecedem o início da obra da via subterrânea que ligará a rua Real da Torre à rua João Ivo da Silva, no bairro da Madalena, integrantes dos movimentos populares chamados Direitos Urbanos estiveram no local afirmando que os tombamentos a serem feitos afetarão os imóveis considerados históricos. Moradores, apesar de já terem sido indenizados, lamentam o fato de ter que saírem.
As primeiras ações foram marcadas com a interdição de uma das faixas da rua João Ivo da Silva, a retirada da primeira parada de ônibus da via e a interdição, com tapumes, de imóveis localizados nesta via. A área é composta por 17 imóveis, entre eles a igreja Assembleia de Deus, que serão demolidos até o próximo dia 28. Parte da Real da Torre também foi bloqueada. No local serão colocados dutos subterrâneos para redes elétrica e de esgoto. 

O túnel, orçado em cerca de R$ 16 milhões, terá aproximadamente 290 metros de extensão, será construído em frente ao Museu de Abolição, o que poderia afetar sua estrutura, segundo um dos integrantes dos Direitos Urbanos, Lucas Alves, que estava no local reivindicando as obras. “Aqui é uma zona especial histórica, não pode ser feito qualquer obra que ponha risco à história da Cidade. além disso, os prédios que serão derrubados são de preservação rigorosa”, comentou. 

Seu Luiz Nelson de Oliveira, de 70 anos, terá seu restaurante demolido. Ele também é morador do local e sente tristeza em ter que sair. “Já fui indenizado, a minha saída daqui está tudo regularizada, mas mesmo assim prefere ria não sair”, disse. Discursos parecidos também eram dos demais residentes da área. Alguns nem sequer quiseram conceder entrevista. 

Enquanto as intervenções eram iniciadas, boatos pelas redes sociais se espalharam dizendo que a obra do túnel teria sido embargada pelo instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), justamente pelo risco de afetar artefatos históricos que poderiam ser encontrados nas escavações. De acordo com o superintendente do órgão em Pernambuco, Frederico Almeida, esse fato não procede. 

“O fato é que entramos com uma documentação junto ao Governo do Estado para que as partes das escavações só sejam realizadas depois que um arqueólogo seja contratado para acompanhar as ações”, revelou Almeida. A assessoria de Imprensa da Secretaria das Cidades informou que esse profissional já foi chamado para atuar no acompanhamento das obras, como preza o projeto arqueológico apresentado pelo órgão. O entorno do museu ainda será requalificado.

A via subterrânea na Madalena passará cruzando a avenida Caxangá. De acordo com o Governo do Estado a previsão para a conclusão do serviço é para janeiro de 2014. A obra faz parte da busca de uma melhor mobilidade no trânsito recifense por meio do corredor Leste/Oeste que vai do bairro Derby, área central, até o município de Camaragibe.

A Secretaria das Cidades esclareceu ainda que vem mantendo conversas junto ao Iphan, desde fevereiro de 2012, tendo, inclusive, acatado todas as recomendações do Instituto em relação à intervenção como a especificação de materiais da calçada, proposta de mobiliário urbano e arborização, o projeto da fiação elétrica, a técnica construtiva do túnel sem causar danos ao monumento e o projeto de arqueologia. Agentes da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) vêm orientando motoristas e pedestres em relação às mudanças no trânsito.

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