Carolina Braga
Diario de Pernambuco
Quase oito anos depois de morar na sala fechada da UTI Pediátrica do Hospital da Restauração (HR), Paulinha, como é conhecida Ana Paula Martins, 19, voltou para casa. Sentiu o vento frio do pôr-do-sol gelar no seu rosto. Vai dormir na mesma casa que a mãe, o pai e o irmão. É o recomeço de uma nova vida, que não será longe dos aparelhos que a acompanham há tanto tempo, como o respirador mecânico e os cilindros de ar comprimido e oxigênio, mas vai ser perto da família. O Home care foi conquistado por meio de medida judicial.
"Não tenho nem palavras para descrever este momento", falou, entre risos, a irmã mais velha, Raquel Martins, 23, que a acompanhou na ambulância até sua casa. Paulinha só fazia sorrir, não conseguia nem sussurrar. O momento foi de emoção para os médicos, que a acompanham todos os dias há tanto tempo. A pediatra Clarisse Santos, foi quem deu o notebook de presente para Paulinha. "Não tenho dúvidas que ela vai ter um enorme crescimento emocional, porque aqui ela viu muito sofrimento, perdeu amigos, assistiu a piora de outras crianças. A saudade vai ficar sim, mas tenho certeza que ela ficará mais feliz perto da família."
O Home Care de Paulinha vai contar com o atendimento de uma equipe multiprofissional, que será integrada por médicos, fisioterapeutas, fonoaldiólogos e enfermeiras durante 24 horas. Tudo bancado pelo SUS.
Campanha - Sua mãe, Maria de Fátima dos Santos, 50, entrou duas vezes com pedido na justiça para tentar conseguir o tratamento em casa, o chamado Home Care. Depois de duas recusas, só teve resposta depois que a menina lançou uma campanha nas redes sociais. Paulinha postou imagens no Youtube iniciando uma campanha com objetivo de pressionar o governo do estado e conseguir a intervenção. A ideia era que o vídeo “Home Care para Ana Paula” tivesse um alto número de compartilhamentos nas redes sociais. E teve. Até agora foram mais de 1,5 mil. Não só isso, a história dela também ganhou as páginas do Diario de novo. Já tinha sido contada como exemplo de superação no dia de Natal, em 2010.
Para dar uma força no pedido de Home Care de Paulinha, o Diario contou também a história de Johanna, 7 anos, que voltou a morar em casa depois de passar cerca de 15 meses internada na UTI Pediátrica do HR. O Home Care foi conquistado um ano atrás por meio da Justiça pernambucana depois de um incontável número de tentativas do pai dela, Paulo Hartl, 32. A pequena tinha apenas 4 anos quando perdeu todos os movimentos do corpo, além dos dentes e de um pedacinho da língua depois que foi atropelada.
História - Há oito anos, Paulinha sentiu uma dor no pescoço, saiu de casa, em Rio Formoso, na Mata Sul do estado, para vir ao Recife se tratar. Ao chegar no HR, passou 42 dias em coma. Descobriu que estava com encefaliomielite viral, doença que gera sequelas neurológicas. A doença que lhe custou o movimento das pernas e dos braços.