A tolerância tem que ser zero

Antônio Assis
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Daniela Mendes
Istoé


As cenas ainda estão vivas na memória de quem viu a lona do Gran Circo Norte-Americano sumir sob as chamas e matar 503 pessoas em Niterói, 70% delas crianças, em 1961. Da mesma forma, o incêndio que interrompeu a vida de 236 jovens em Santa Maria não terá sido esquecido daqui a 50 anos por quem testemunhou as cenas de horror na boate Kiss. A fumaça escura e espessa que tomou conta do ambiente. Os corpos inertes empilhados pela casa noturna. Os celulares das vítimas que tocavam sem parar, traduzindo a ansiedade de familiares por notícias. Um único aparelho recebeu 104 ligações. O visor mostrava o autor das chamadas: mãe. Nada disso terá desaparecido da memória. A perplexidade e a tristeza permearam todas as conversas na semana passada. O Brasil se emocionou com a dor de cada pai e mãe que enterrou um, às vezes, dois filhos. Um dos sentimentos mais fortes, porém, foi o de indignação. De tão evitável, essa tragédia parece sem sentido, pois ela é resultado da soma de todos os erros, os mais banais e inaceitáveis. É a prova de que as pequenas irregularidades viram grandes tragédias. Por mais chocante, absurdo e intolerável, o holocausto gaúcho tem de ser transformador. As vítimas da Kiss devem ser cultuadas como mártires de um novo país, o da tolerância zero.

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