Moraes Moreira lota Baile Perfumado

Antônio Assis
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Renato Contente
JC Online

Davi e o pai durante apresentação, na sexta-feira

Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem

Colar com flores de plástico, calças boca-de-sino, óculos escuros redondos, jaquetas indianas e dedos indicadores e médios articulados em "paz e amor" foram alguns dos artíficios de que o público fez uso para incorporar o desbunde proposto pela prévia do Guaiamun Treloso, na última sexta, no Baile Perfumado. Sob o lema "Eu não marco tôca", os recifenses tiveram mais uma oportunidade de celebrar a vitalidade cristalina de Acabou chorare - cria base dos Novos Baianos que chegou aos 40 anos em 2012 - com Moraes Moreira e seu filho Davi Moraes.

Se o disco de 1972 fez tudo, tudo virar na música brasileira - do sítio do Vovô, em Jacarepaguá, para o coração de gerações enfileiradas adiante -, o frevo deve boa parte de sua renovação recente a Silvério Pessoa e seu álbumMicróbio do frevo, cujo 10º aniversário foi o mote para o show que abriu a noite desbundada. Por volta das 23h30, o músico subiu ao palco para apresentar as canções do disco que inovou o ritmo pernambucano ao trazê-lo vinculado a programações eletrônicas, samplers e vinhetas.
No palco do Guaiamum Treloso - mesma festa em que o álbum foi lançado, em 2003 -, Silvério se aproximou da sonoridade do disco com microfones distorcidos e efeitos sonoros manipulados por ele mesmo. No repertório, frevos clássicos escritos e/ou gravados por Jackson do Pandeiro, como Tô com a macaca e Balanço do frevo, além da música que batizou o álbum, de Genival Macedo.
O show também contou com participações de parceiros que estiveram com Silvério na gravação do disco. Um dos primeiros a subir no palco, Tibério Azul acompanhou o pernambucano em Vou gargalhar, unindo frevo e samba para entoar "Você errou sem querer, coração/ sua profecia vai fracassar/ e eu vou gargalhar". Com Cannibal, o público cantou Frevo do Bi em uma versão próxima ao hard core da Devotos, e, com o rapper Zé Brown, Elaboração do frevo. Já perto do fim, Quem não chora não mama reuniu Silvério e Lula Queiroga em bonito dueto.
Em seguida, o Brasil desceu a ladeira com Moraes Moreira narrando a história dos Novos Baianos em cordel: "Zombaram alguns caducos, 'que nada, esses malucos só querem mesmo é curtir'/ e como quebraram a cara, pois não sabiam, repara, o que estava por vir". O homem de cachos rosas e castanhos apresentou, ao lado do filho, o repertório irretocável  com as dez músicas que, feitas em época de saudade doída pelo exílio, invocam um amoroso carpe diem. O sucesso imutável, aliás, pode residir aí: em vinil, k7, compact disc ou mp3, sob ditadura ou democracia, canções iluminadas de sol - como categorizou José Teles - nunca serão demais.
Para rememorar os tempos no Sítio do Vovô ao lado de Baby Consuelo, Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes – em que Acabou chorare e Davi Moraes foram concebidos quase simultaneamente -, Moreira deu partida com Brasil pandeiro, Tinindo trincando e Swing de Campo Grande (onde ele atesta que não marca tôca, "eu viro toca, eu viro moita").
Em seguida, Acabou chorareMistério do planeta e A menina dança encheram de sol o Baile Perfumado, assim como aconteceu no Coquetel Molotov, em setembro de 2012, no Teatro da UFPE. Na sequência, Moraes celebrou sua carne de Carnaval com frevos como Valores do passado, de Edgar Moraes, e Frevo nº 2 do Recife, de Antônio Maria, além de vibrar com o solo de guitarra de Davi, que ovacionou o manguebeat. O encerramento da noite ficou por conta da carioca Orquestra Voadora, que, transformando em músicas de bloco Fela Kuti, temas do cinema e Michael Jackson, atestou: o Carnaval do Recife já começou. 

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