O Estado de S.Paulo
Cientes de que as verbas federais são vitais para suas
gestões, e não tendo à vista um quadro claro de alianças partidárias
para a disputa presidencial de 2014, os prefeitos das principais cidades
do País - novos ou reeleitos, da situação ou da oposição - tomaram
posse ontem com discursos cautelosos, sem críticas aos adversários
vencidos, falando em parcerias para governar e distribuindo elogios a
todo o espectro partidário. Nesse clima de "paz e amor", mesmo os que
protagonizaram disputas acirradas contra nomes apoiados diretamente pela
presidente Dilma Rousseff evitaram partir para o ataque ao governo
federal.
Foi o caso do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto
(DEM), e de Marcio Lacerda (PSB), reeleito em Belo Horizonte, que
tiveram de enfrentar durante a campanha o empenho pessoal não só de
Dilma como do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma e Lula
foram a Salvador para fazer campanha para Nelson Pellegrino (PT) e a
Belo Horizonte para tentar eleger o ex-ministro Patrus Ananias (PT).
Lacerda venceu a disputa no primeiro turno e ACM Neto, no segundo.
"A eleição acabou, é hora de descer do palanque. Não vou governar
fazendo política partidária. Não vou permitir negociar o futuro da
cidade por vantagens políticas", afirmou ACM Neto, ao assumir a
prefeitura de Salvador. Já Marcio Lacerda, que assumiu o segundo mandato
na presença de seu principal mentor político, o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), fez elogios gerais. "Belo Horizonte, por meio de parcerias
com o governo do Estado e com o governo federal, está tendo o maior
volume de obras de sua história". Ele distribuiu agradecimentos a Dilma,
a Lula, a Aécio e ao governador Antonio Anastasia "por todo o apoio que
Belo Horizonte teve e terá".
Lugar de destaque. No Recife, onde a disputa foi forte entre PT e
PSB, o novo prefeito, Geraldo Júlio (PSB), também evitou o confronto,
enaltecendo os projetos conjuntos com Brasília para governar. Ainda
assim, não perdeu a chance de elogiar seu padrinho político, o
presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
"Um lugar de destaque o espera no futuro político deste País", disse ele
do governador, que tem sido lembrado como possível candidato do partido
à Presidência em 2014. Ele o saudou "pela habilidade e capacidade de
juntar as pessoas" e mencionou uma de suas bandeiras mais caras, o "novo
federalismo".
A rivalidade PT-PSB foi marcante, da mesma forma, nas eleições de
Fortaleza- mas ali também o novo eleito, Roberto Cláudio (PSB) chegou
falando em "pacto de governabilidade" com os 43 vereadores e disse
considerar essenciais as parcerias com o governo Dilma Rousseff.
No Rio de Janeiro, o prefeito reeleito Eduardo Paes (PMDB), que em
campanha saudou as parcerias com os governos federal e do Estado do Rio,
não fez nenhuma menção ao apoio recebido pelo ex-presidente Lula em sua
campanha. Garantiu, no discurso de posse, que ficará no cargo até o
último dia de mandato e que seu candidato ao governo do Estado em 2014 é
o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
Paes anunciou um conjunto de propostas que incluem turno integral
escolas, ponto biométrico para médicos e bilhete único de transportes
para a população, além de propor um corte linear de 10% nos gastos da
administração. As medidas foram publicadas em forma de 40 decretos na
edição de ontem do Diário Oficial do Município.
O tom conciliatório valeu mesmo em cidades onde a disputa foi dura
entre legendas de esquerda - casos de Porto Alegre e Campinas. O novo
prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), evitou fazer criticas ao
PT ou governo federal e ressaltou as "parcerias imprescindíveis para a
boa gestão da nossa cidade", que pretende manter. Mencionou ainda "a
parceria do governo federal, onde temos encontrado uma profunda
receptividade por parte da presidente Dilma Rousseff e dos seus
colaboradores" e a "parceria do governo do Estado, onde o governador
Tarso Genro tem dado indicativos do aprofundamento dessa relação".
No caso de Campinas, o prefeito eleito Jonas Donizette (PSB) - cujo
adversário, o petista Marcio Pochmann, teve apoio pessoal e direto do
ex-presidente Lula - repetiu o exemplo dos demais. Passada a tensão
eleitoral, ele citou a presidente Dilma e o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), como aliados. "Nossa gestão busca a união com
forças políticas ligadas tanto ao governo Alckmin, quanto ao governo
Dilma. É, portanto, uma administração ampla, não é uma administração
para um partido", afirmou.
Em Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) elogiou o PT, que o apoiou -, mas
evitou as feridas com PSB e PSDB, dedicando seu discurso ao desafio dos
transportes. Em Maceió, o tucano Rui Palmeira disse que vai trabalhar
"em conjunto com a bancada federal de Alagoas" para obter recursos.
Novas eleições. Nem todos os 5.565 municípios brasileiros, no
entanto, viram ontem os prefeitos eleitos em 2012 tomarem posse. Em 59
cidades, o cargo foi para o presidente da Câmara de Vereadores, porque
os eleitos obtiveram mais de 50% dos votos válidos mas tiveram o
registro negado pela Justiça Eleitoral. No caso, a lei exige uma nova
eleição.
Em sete municípios as novas eleições já estão marcadas - a primeira,
em Guarapari (ES), será no dia 3 de fevereiro. Outros seis irão às urnas
a 3 de março.
O Tribunal Superior Eleitoral não conseguiu julgar ainda todos os
processos da última campanha eleitoral. Cerca de 780 recursos ainda
estão pendentes. / ÂNGELA LACERDA, ALFREDO JUNQUEIRA, MARCELO PORTELA,
ELDER OGLIARI, HELIANA FRAZÃO, RICARDO BRANDT, ALCINÉA CAVALCANTE e
LAURIBERTO BRAGA.