Desde que a morada do doutor Arraes e de dona Magdalena Arraes virou a sede do Instituto Miguel Arraes (IMA), o ambiente vem se transformando para abrigar a infinidade de documentos da vida pessoal e política do avô do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Com seis anos de fundação, o IMA se prepara para funcionar a pleno vapor no centenário de Miguel Arraes, em 2016.
Quem recebe a reportagem do JC é dona Magdalena Arraes, que completou 84 anos na última sexta-feira (14), véspera do aniversário de Arraes. Quase todas as tardes ela volta à casa. “Foi uma casa que nós construímos com pessoas amigas. Engenheiro, arquiteto, que opinaram sobre o imóvel e fizeram o projeto. Queríamos uma casa que comportasse bem a família e o tipo de atividade dele. Esse era um local muito animado do ponto de vista político. As reuniões eram frequentes, todo dia tinha gente querendo conversar com ele aqui”, lembra Magdalena, diretora do IMA.
Com um jardim amplo, a casa toda em madeira e com ares brejeiros foi um pedido pessoal de Arraes ao engenheiro e amigo Arthur Lima Cavalcanti. A iluminação é toda feita nas paredes como candeeiros. Também a casa é toda rodeada por grandes terraços. Dona Magdalena conta que o “terraço-pequeno” era um dos cantos mais movimentado e apreciado por Arraes. “Ele costumava descansar por aqui, na rede”, diz sobre o marido, figura que já foi transformada em mito pela história política brasileira.
Por enquanto, é um instituto tocado apenas pela família Arraes. O presidente, o advogado Antônio Campos, um dos netos, avalia que os primeiros anos foram positivos. “O IMA é um instituto em formação, mas a sua base está formatada: a casa-museu, a preservação do acervo e documentos de Miguel Arraes e o planejamento estratégico do que pretende ser o instituto”, ressalta.
São mais de 200 mil documentos referentes a 50 anos de vida pública, como correspondências, manuscritos dos documentos oficiais e livros que escreveu. A grande maioria já foi higienizada, restaurada e armazenada. Porém, apenas a parte do exílio na Argélia foi digitalizada, através de uma cooperação técnica com a Fundação Joaquim Nabuco.
A bibliotecária Sandra Maia, responsável por esta área documental do IMA, explica que o trabalho já percorreu metade do caminho. “Precisamos agora automatizar o acervo através da digitalização, catalogação e criação de um banco de dados. Esta parte é bastante onerosa, por isso apresentamos projetos já ao Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e à Petrobras. Estamos aguardando o resultado”, conta. A casa está aberta a pesquisadores e interessados na documentação que contém desde informações oficiais dos governos até cartas pessoais trocadas com personalidades artísticas e políticas.
A visita, porém, deve ser agendada. Com muita delicadeza, dona Magdalena se despede de nós, fazendo questão de mostrar um outro hábito cultivado pelo ex-governador: um chuveiro localizado do lado externo da casa, perto da garagem, onde ia se refrescar nos dias quentes.
Carolina Albuquerque
JC Online
externo da casa, perto da garagem, onde ia se refrescar nos dias quentes.