Globo News - Programa Starte
por Bianca Ramoneda
Ela não gosta de ser chamada de grande dama do teatro brasileiro. Não concorda com o crédito, mesmo que o público, a crítica e muitos amigos se refiram a ela dessa forma. Qualificar Fernanda Montenegro não é apenas desnecessário, mas praticamente impossível. A idade avançada permite, segundo ela, uma visão mais clara de si mesma, algo que não é possível na juventude. Com um fino senso de humor e muita transparência na expressão de seus sentimentos, ela nos presenteou com essa conversa que você ouve agora no Starte.
Sobre a formação de jovens atores
Fernanda Montenegro - Você tem que se ilustrar na medida do possível, não precisa virar um scholar, compreende? Mesmo que seja [através de] orelha de livro, mas você tem que ter uma informação geral sobre o momento que você vive, sobre a herança cultural que você está tendo do seu país ou mesmo lá de fora. Você tem que estar por dentro, quanto mais não seja, ler um jornal por dia, ler um livro por mês, ouvir música, ouvir música, ouvir toda qualidade de música. Não há nada que te imante mais, que te ponha mais dentro do seu mais íntimo sentimento do que o som, do que uma boa música.
Eu, geralmente, quando me perguntam o que é que você diria para um ator que está começando, eu sempre digo: desista, não passe perto, saia disso. Digo sinceramente.
Bianca Ramoneda - Mas é um choque ouvir isso de você.
Fernanda Montenegro - Mas é verdade. É porque confundem teatro com liberdades, até com licenciosidades, com realização de sua opção sexual, com glórias, paetês, retrato no jornal, riqueza... aí já entra a televisão, não é? Porque no meu tempo não tinha televisão, então, hoje em dia a deformação já é os famosos “celebrities”, não é? Então, a coisa é pegar o eletrônico que vai cuidar dele, vai polir ele, vai ... se não for bom, repete a cena, se não for bom, repete outra vez, ou então, corta, ou então põe uma música no fundo, ou então bota uma lágrima. Vai preparando como se fosse um autômato, que, depois, pode até resultar muito bem porque ele se apropria daquela técnica, não é? Vai fazendo e vai virando o chamado “ator”, ou “artista”. Todo mundo virou “artista” hoje em dia, por que todo mundo pode ser “artista”, agora ator não é todo mundo que pode ser. Então, essa... essa visão assim onírica, louca, solta, não sabe o que é isso aqui [o palco]. Então, saia, saia da frente. Não ocupe o espaço. Vai ser bancário, vai ser doutor, vai ser diplomata, vai ser gari, enfim... Agora, se morrer porque não está fazendo isso, se adoecer, se ficar em tal desassossego que não tem nem como dormir, aí volte, aí venha aqui. Mas se não passar por esse distanciamento e pela necessidade dessas táboas aqui, não é do ramo, não é do ramo.
Para assistir a entrevista na íntegra, clique aqui