Élio Gaspari
Lula levou seu poste ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de São
Paulo. Apesar de a eleição ter ocorrido enquanto o Supremo Tribunal
Federal julga um dos maiores escândalos políticos da história nacional, o
PT saiu da rodada inicial como o partido mais votado nos municípios,
com 17,3 milhões de votos (um crescimento de 4%), elegendo 624
prefeitos, 12% a mais que em 2008. Levou 8 das 83 cidades com mais de
200 mil habitantes que fecharam a conta.
Isso num dia em que o ministro Joaquim Barbosa era festejado na seção
onde votou. "Cana neles", disse-lhe um eleitor. Seu colega Ricardo
Lewandowski, adversário no julgamento do mensalão, entrou pelos fundos. O
comissário José Dirceu, depois de ter trocado de endereço, chegou
acompanhado por uma centena de companheiros parrudos.
O PMDB continua sendo o partido com maior número de prefeituras (1.025)
mas, pela primeira vez, perdeu na soma dos votos. O PSDB elegeu 693
prefeitos com 13,9 milhões de votos, perdendo 13% dos municípios e 4%
dos votos.
Qualquer projeção de resultado eleitoral com base em resultados do
primeiro turno é uma ousadia aritmética e as especulações nacionais a
partir de números municipais são exercícios de quiromancia. Os números
de domingo fixam três personagens vitoriosos: o mineiro Aécio Neves, o
pernambucano Eduardo Campos e o carioca Eduardo Paes, mas falta São
Paulo.
Se Nosso Guia eleger Fernando Haddad, sairá desta eleição maior do que
entrou. Se perder, pobre Lula. Assim como ninguém poderá dizer que o PT
perdeu a eleição tendo vencido em São Paulo e saído do pleito com mais
de 14 milhões de votos, os companheiros terão dificuldade para cantar
vitória tendo perdido também em Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.
A ascensão de Celso Russomanno mostrou que costuras partidárias,
marquetagens e tempo no horário de propaganda gratuita são incapazes de
decidir um pleito. Sua implosão provou que pesquisa é uma coisa, e
eleição, outra. A de domingo mostrou as limitações da futurologia.
Noutro aspecto, indicou as limitações da passadologia.
Continua em vigor a sabedoria convencional do cinturão petista da
periferia de São Paulo. Haddad conseguiu recuperar os votos da periferia
que escorregavam na direção de Russomanno e ficou com o maior pedaço
desse eleitorado. Não existe cinturão petista. Se existisse, nas
pesquisas de setembro, Russomanno não teria conseguido 38% das
preferências na região. O que existe é um pedaço da cidade onde, depois
de oito anos de exercício da prefeitura, o tucanato ainda não se fez
ouvir.
Há dez anos havia no Rio de Janeiro o fator passadológico da zona oeste.
Nela, políticos como Anthony Garotinho e Cesar Maia, com oito anos de
poder estadual e 12 na prefeitura, estariam protegidos. Pois no domingo,
o candidato Rodrigo Maia (filho de Cesar), que tinha como vice Clarissa
Garotinho (filha de Anthony e de Rosinha, sua sucessora) conseguiu 5,4%
dos votos, com 0,91% em Campo Grande. O cinturão carioca também não
existia. Tanto na periferia de São Paulo como na zona oeste do Rio
concentram-se eleitores de baixa renda.